quinta-feira, outubro 04, 2007

O MONSTRO DO CIRCO (The Unknown)



Quem lembra com saudade das quatro edições da Cine Monstro com certeza não esqueceu do excelente artigo de Daniel Camargo sobre Tod Browning, que de tão bom e extenso foi dividido em duas partes. Mas o que mais me marcou foi mesmo a crítica de O MONSTRO DO CIRCO (1927), um dos filmes mais inacreditáveis da história do cinema. Trata-se de um filme mudo que não perdeu em nada a sua força com o passar dos anos. Até mesmo nos dias de hoje, com a sociedade vivendo em estado de quase dormência em relação à violência e às barbaridades cometidas diariamente por pessoas dementes.

Com o tempo, e principalmente depois de MONSTROS (1932), Tod Browning se firmou como o mestre do bizarro. O MONSTRO DO CIRCO é estrelado por Lon Chaney e uma jovem Joan Crawford - acreditem, ela já foi bonita!. Assim como em MONSTROS, O MONSTRO DO CIRCO se passa dentro de um circo. Chaney faz o papel de Alonzo, o homem sem braços que é capaz de atirar flechas e até um rifle com os pés. Ele é apaixonado por Nanon, sua bela parceira de picadeiro (Crawford), uma garota estranha que tem fobia de mãos masculinas. Por isso, Alonzo acredita que tem chances de conquistá-la, já que ele supostamente não tem braços. Acontece que Alonzo tem braços sim, um segredo que ele mantém apenas com o seu ajudante Cojo, que todas as noites o ajuda a se livrar de um corpete que enrola seu corpo de modo a esconder os seus braços. O disfarce de homem sem braços, além de ser uma forma de ele ganhar dinheiro no circo é também um ótimo álibi para esconder o passado criminoso de Alonzo. Mas a maior preocupação dele é mesmo conseguir conquistar o amor de Nanon. O problema é que ela está começando a se interessar pelo homem forte do circo, ainda que sua fobia por mãos masculinas continue atrapalhando seus relacionamentos.

Com medo de perder Nanon, caso ela descubra que ele tem braços, Alonzo toma a terrível decisão de mandar amputar os seus braços. Como desgraça pouca é bobagem, enquanto Alonzo se recupera da cirurgia de remoção dos braços, Nanon passa a namorar o homem forte, marcando casamento e tudo. Ao saber disso, o mundo de Alonzo desmorona. Há ainda um ápice no filme, que acaba por definir o destino de um dos personagens, mas pra mim, o filme atinge o seu clímax mesmo no momento em que Alonzo descobre que sua amada, a mulher por quem ele cometeu um grande sacrifício, vai se casar com outro.

Para ver O MONSTRO DO CIRCO é preciso estar preparado para sentir angústia. Contribuiu e muito para o sucesso do filme o desempenho espetacular de Lon Chaney, que faz um personagem totalmente crível e impregnado de tragédia. A fotografia ganha tonalidades ainda mais belas nas cenas de namoro de Nanon, como se Browning tivesse colocado um filtro sobre a lente. O filme tem menos de uma hora de duração e o tempo passa voando. Definitivamente, um dos melhores filmes do cinema mudo e que merece ser descoberto pelas novas gerações. Vale dizer que durante muito tempo O MONSTRO DO CIRCO foi dado como perdido, mas para nossa sorte foi encontrada uma cópia num arquivo francês há alguns anos. O filme não foi lançado em dvd no Brasil mas é possível encontrá-lo pelas já conhecidas vias alternativas.

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