quinta-feira, setembro 20, 2007

O SIGNO DO LEÃO (Le Signe du Lion)



Ontem uma bomba explodiu aqui na fundação onde eu trabalho. Sete pessoas iriam ser demitidas hoje. E eu meio que já me achava incluído na lista dos demitidos. Até fui ao cinema ainda ontem para tentar me distrair, mas de vez em quando eu pensava no que seria de mim e de meus colegas a partir de hoje. E a hora chegou. Não fiquei entre os demitidos, mas a expectativa de ser e de ver os meus amigos subindo para receber suas cartas de desligamento foi algo muito triste. Acho que desde a morte de um colega nosso, no ano passado, que o lugar não esteve tão triste. Interessante como a gente é dependente de um emprego para sobreviver, para vestir, para ter um lugar para dormir. Jesus disse: "Olhai para os lírios do campo, como crescem; não trabalham nem fiam; contudo vos digo que nem mesmo Salomão em toda a sua glória se vestiu como um deles." No entanto, basta faltar dinheiro que a gente se transforma num mendigo, se isola da sociedade. E isso acontece com diversas pessoas que um dia tem casa, emprego, família e perdem tudo.

É disso que trata O SIGNO DO LEÃO (1959), o primeiro longa-metragem de Eric Rohmer. No filme, vemos a decadência financeira e moral de um homem, que se vê sozinho, sem emprego, sem dinheiro. No início do filme, vemos ele recebendo um telegrama informando do falecimento de sua tia rica. Como ele era pobre, tratou logo de chamar os amigos, prevendo receber milhões de francos de herança da velha. Assim, ele resolveu comemorar com os amigos. O problema é que ele não recebeu dinheiro nenhum, a sua tia preferiu dar tudo para o seu outro herdeiro, e ele desapareceu para não ter que pagar o dinheiro que devia para os amigos, passando a morar num hotel até ser posto para a rua.

Um dos momentos mais tristes é quando o protagonista pega uns trocados e sai para comprar um pão e uma lata de sardinha. Ele leva a comida para casa e acaba sujando a única calça que ele tem com o óleo da sardinha. Eu falando assim, até dá para pensar que o filme é um melodrama. Mas não é o caso. Como Rohmer é um cineasta especializado em comédias que têm a sua marca inconfundível, o filme tem uma certa leveza, apesar do tema difícil. É comum vermos os personagens de Rohmer andando pelas ruas, mas acho que nenhum outro personagem rohmeriano anda tanto quanto Pierre, o protagonista interpretado pelo americano Jess Hahn. Agora quem acaba roubando a cena sempre que aparece, mesmo sem dizer nada, é o jovem Jean-Luc Godard. Naquela época, os cineastas da Nouvelle Vague eram mais unidos, participando do filme dos colegas com mais freqüência.

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