quinta-feira, setembro 06, 2007

CIDADE DOS HOMENS



Posso até estar sendo preconceituoso, mas eu tenho medo do Rio de Janeiro. Nas duas vezes que visitei a cidade, sozinho, para fazer um treinamento pelo trabalho, meus passeios por lá foram extremamente tensos. Tinha medo de ser assaltado a qualquer momento. Lembro que saí de um hotel na Praia do Flamengo para ir até um shopping na Barra da Tijuca e o ônibus "deu o prego" em frente à Favela da Rocinha. Fiquei lá esperando que outro ônibus chegasse, mas não consegui ficar à vontade. Até quando cheguei ao shopping, fiquei em estado de alerta o tempo inteiro. Visitei o Pão de Açúcar no outro dia nesse mesmo estado. A culpa desse meu medo talvez seja mesmo dos noticiários, mas filmes como CIDADE DOS HOMENS (2007) contribuem para que esse medo permaneça ou até aumente. Na cena em que Madrugadão (Jonathan Haagensen) e seus homens invadem uma avenida eu me senti um pouco no lugar do sujeito que está dentro do seu carro e vê aquele bando armado invadindo as ruas.

Engraçado como os graves problemas do tráfico e da criminalidade nos morros cariocas acabam eclipsando o que seria o eixo central da trama: os problemas relativos à paternidade de Acerola (Douglas Silva) e Laranjinha (Darlan Cunha), recém-chegados à maioridade. Acerola teve que se casar com uma menina por tê-la engravidado e não é suficientemente maduro para ser um pai; Laranjinha continua solteiro, mas sonha em encontrar o seu pai. Ele conta com a ajuda do amigo para descobrir a identidade e o paradeiro do seu genitor. Imagens dos dois amigos retiradas de episódios da série de tv e do curta PALACE II (2002) ajudam a enriquecer o filme, trazendo verdade para a amizade duradoura desses dois amigos. Os dois rapazes, Douglas Silva e Darlan Cunha, tiveram ótimos desempenhos no filme, de tão íntimos que ficaram com os personagens.

O efeito incômodo de vermos uma criança segurando um revólver, visto em CIDADE DE DEUS (2002), novamente se repete no filme de Paulo Morelli, só que de maneira menos violenta e incisiva. Ainda assim, CIDADE DOS HOMENS enfatiza muito bem o cenário hostil de quem vive nas favelas comandadas por traficantes, um cenário onde a polícia e os governantes não conseguem chegar para intervir. É uma situação tão delicada que uma intervenção mais drástica poderia transformar o Rio de Janeiro numa Ruanda ou num Sudão. Diferente de se ver um filme americano de gênero, onde o espetáculo supera o contexto social, fica difícil ver CIDADE DOS HOMENS como um filme de ação ou uma aventura dramática. Eu, pelo menos, fiquei o tempo todo imaginando como é morar num lugar daqueles. Não sei se isso é um problema ou uma qualidade do filme.

P.S.: Nesse final de semana, Antônio Filho, um amigo de infância, policial, foi assassinado ao tentar impedir um assalto. Quando soube que ele tinha morrido, no domingo, o caixão já havia saído. Outro conhecido meu, anteontem, teve o seu carro roubado por um assaltante armado. As coisas também não andam fáceis por aqui. Talvez a solução seja morar no interior.

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