segunda-feira, setembro 10, 2007

AMANTES CONSTANTES (Les Amants Réguliers)



A única cópia brasileira de AMANTES CONSTANTES (2005) demorou tanto a aportar em Fortaleza que chegou toda arranhada. Principalmente durante os primeiros minutos. Legal que ficou parecendo uma cópia bem antiga, dos anos 60. E foi uma sessão marcante pra mim, principalmente no quesito "resistência". Várias pessoas não resistiram ao filme e saíram com pouco mais de uma hora de duração. Até mesmo um sujeito que eu sempre vejo nas sessões de arte saiu com uma hora e meia de duração do filme. Com uma hora de filme, eu olhei para o relógio e pensei: caramba!, ainda faltam duas horas! Mas resisti bravamente, corajosamente, como os jovens parisienses que enfrentaram a polícia em maio de 68. Eu só comecei a curtir de verdade o filme quando já tinham passado mais de duas horas de projeção e já havia sublimado as dores do corpo. Até porque o fato de o último terço do filme enfatizar mais a relação entre o casal François (Louis Garrel) e Lilie (a bela Clotilde Hesme) ajuda a aumentar o interesse.

AMANTES CONSTANTES foi o primeiro trabalho de Philippe Garrel a ser lançado comercialmente no Brasil. Alguns dizem que o filme é a resposta de Garrel aOS SONHADORES, de Bernardo Bertolucci, mas a impressão que eu tenho é que não existe de fato uma rivalidade entre os dois cineastas, tanto que o italiano é homenageado respeitosamente no filme de Garrel, na cena em que Clotilde Hesme cita, olhando para a câmera, ANTES DA REVOLUÇÃO, do Bertolucci. Sem falar que o filho do diretor, Louis Garrel, é protagonista de ambos os filmes. Eu até tendo a gostar mais do filme de Bertolucci, já que ele dá uma maior importância ao cinema como estopim da revolução, com a demissão de Henry Langlois da direção da Cinemateca Francesa sendo motivo de revolta para a juventude sair às ruas e ir à luta.

O filme de Garrel tem um aspecto documental, principalmente em sua primeira parte, que enfatiza a luta dos estudantes nas ruas. Essas cenas são mostradas sem a mínima pressa e de um ângulo muitas vezes incômodo para o espectador. As repetidas cenas dos jovens fumando haxixe também contribuiem para o cansaço. Trata-se, enfim, de um filme difícil, mesmo para quem já teve contato com os filmes de Godard. Muitos na sala reclamavam das legendas que desapareciam no fundo branco da fotografia em preto e branco de alto contraste. Mas, ao contrário do que eu temia, AMANTES CONSTANTES não é um filme que dá sono. Fiquei bastante acordado durante as três horas de filme e de certa maneira até bastante feliz por estar participando daquela sessão incomum, embora eu admita que minha preguiça de pensar e minha ignorância político-ideológica prejudiquem e muito a apreciação da obra. Quem sabe um dia eu revejo o filme e apreendo melhor suas idéias, suas motivações e sua beleza estética.

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