quinta-feira, março 22, 2007

OS CHEFÕES (The Funeral)



Alguns amigos já haviam me recomendado, haviam me dito o quanto era ótimo OS CHEFÕES (1996), mas por alguma razão eu sempre adiava a apreciação do filme. Só ontem é que eu pude conferir o quanto é maravilhoso esse filme de Abel Ferrara. OS CHEFÕES (eta titulozinho mais besta, esse nacional) já me conquistou logo de imediato. A primeira imagem do filme é a de Humphrey Bogart em A FLORESTA PETRIFICADA. Depois disso passamos para os créditos que apresenta um elenco de dar inveja a qualquer cineasta: Christopher Walken, Chris Penn, Vincent Gallo, Benicio Del Toro. Como já não bastasse um elenco masculino tão bom, eis que ainda temos as mulheres do filme: Annabella Sciorra, Isabella Rossellini e Gretchen Mol desempenham suas funções maravilhosamente no papel das tristes mulheres dos três irmãos. E o que é melhor, durante os créditos ouvimos completinha "Gloomy Sunday", de Billie Holiday, enquanto o caixão que traz o corpo de Johnny (Vincent Gallo) chega na casa. Não seria exagero dizer que essa cena inicial de cinco minutos pode estar entre os trabalhos mais extraordinários já realizados no cinema da década de 90. A expressão de tristeza e desespero no rosto de Gretchen Mol com a chegada do caixão do namorado é de arrepiar. Eu fiz questão de rever essa seqüência depois que terminei de ver o filme.

Apesar de não ter crescido no catolicismo e de ter até um pouco de preconceito com seus dogmas e sua história, não tem como não perceber o quanto a religião católica tem influenciado de forma positiva grandes cineastas como Alfred Hitchcock, Martin Scorsese, Robert Bresson e Mel Gibson, só pra citar os exemplos mais óbvios. No caso de Abel Ferrara, o catolicismo é ainda mais presente em seus filmes, só que é tratado de uma maneira mais crítica, amarga e questionadora. Em OS CHEFÕES, na cena em que Christopher Walken fica cara a cara com o assassino de seu irmão, ele, em vez de falar um discurso simples como "você matou o meu irmão, eu vou te matar", ele passa a conversar com o sujeito sobre fé, justiça e livre arbítrio. E eu achei isso sensacional.

Os personagens de Ferrara transitam entre a culpa e o pecado constantemente. Na cena em que Chris Penn, em interpretação excepcional, está dando uns amassos numa garota novinha, no meio de um momento de intensa luxúria, ele pára e diz pra ela, "isso é errado, você é apenas uma menina", para logo em seguida agir de maneira brutal e violenta com ela. A estrutura do filme parece um pouco solta, sendo que nem sempre há uma ligação forte entre os seus blocos. Não que isso seja um problema. Pode-se assistir ao filme em pedaços, como se estivéssemos ouvindo as canções preferidas de um álbum.

Não sou um bom conhecedor da obra de Ferrara - estou querendo reverter esse quadro -, mas algo me diz que OS CHEFÕES é a obra-prima do cineasta. Em casa, esperando por uma oportunidade para vê-los, estou com BLACKOUT (1997), em DVD, MARIA (2005), em divx, e o filme em episódios METRÔ DE NOVA YORK (1997), com um segmento dirigido por ele, em VHS.

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