sexta-feira, fevereiro 16, 2007

O DINHEIRO (L'Argent)



Os últimos dias estão sendo um tormento pra mim. Culpa de uma crise de garganta que tira toda a minha vitalidade. Tudo que eu queria era ficar deitado na cama vendo algum filme antigo ou um episódio de uma de minhas séries preferidas. Ou dormir, ou ler quadrinhos, ou a biografia do Rei, ou textos sobre cinema. Em vez disso, sou obrigado a ficar no ar condicionado da empresa, o que só piora a minha condição. Estou sentindo que tudo que me dá prazer está sendo tirado de mim aos poucos. Não quero enumerar isso a que eu estou me referindo, mas essa lista renderia pelo menos uns sete ítens. Passarei o Carnaval em Flexeiras, uma aldeia de pescadores a 148 km de Fortaleza. Tenho impressão que vou usar a casa de praia como casa de repouso. O que não é de todo mal. Estou precisando mesmo, depois desses dias de tanta pressão no trabalho. A desvantagem de viajar é não poder ver no final de semana os filmes que entraram em cartaz em Fortaleza. Vou ter que correr atrás do atrasado quando voltar.

Pois bem. Vamos ao filme em questão. O que dizer de O DINHEIRO (1983)? O que escrever sobre um filme quando não se entende nada? (E eu que tinha achado o MADE IN U.S.A. do Godard complicado...) O que pude notar nesse filme em relação aos anteriores de Robert Bresson foi que há bem menos imagens fora de campo - de pés quando se pretende ver rostos, por exemplo. O filme apresenta a estória de dois rapazes que praticam crimes e vão presos a certa altura. Mas muito do que é mostrado pra mim é uma incógnita. Por que Bresson mostra o rapaz tomando sobras de bebida ou de café? O que isso quer dizer? Qual a intenção do diretor? Coisas como essa vão passando pela tela e eu fui ficando sem entender até que chega uma hora que o que sobrou em minha mente foi dispersão. Isso é bastante comum de acontecer quando não se fica totalmente envolvido com o filme. Aliás, de todos os filmes de Bresson, apenas dois me envolveram completamente.

Há um elemento recorrente na obra de Bresson, que é o fato de ele mostrar personagens presos. Isso aconteceu em O PROCESSO DE JOANA D'ARC (1962), em UM CONDENADO À MORTE ESCAPOU (1956) e no final de PICKPOCKET (1959). Até se poderia dizer que o jumento de A GRANDE TESTEMUNHA (1966) também seria uma espécie de prisão: uma alma pura presa num corpo de um animal abusado e desprezado. Tudo indica que essa repetição do aprisionamento se deve ao fato de Bresson ter estado preso num campo de concentração alemão por mais de um ano durante a Segunda Guerra Mundial. A prisão novamente se repete em O DINHEIRO, mas sem ter um efeito tão forte ou tão enfático quanto nos filmes anteriores. Aliás, não consegui gostar de muita coisa desse filme. Bem que eu gostaria. Um dia, quando eu tiver mais velho e mais maduro, talvez eu o reveja e tenha uma outra impressão.

Assim como vários filmes do diretor, O DINHEIRO foi baseado numa antiga obra clássica. Não deixa de ser interessante notar que do clássico ele traz algo moderno. Aliás, moderno talvez não seja o termo mais apropriado, mas acho que me fiz por entender. O DINHEIRO foi baseado num conto de Leon Tolstói.

Agora ficam faltando apenas três filmes de Bresson pra eu ver: OS ANJOS DO PECADO (1943), UNE FEMME DOUCE (1969) e QUATRO NOITES DE UM SONHADOR (1971).

Bom carnaval para todos e até a volta!

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