segunda-feira, janeiro 29, 2007

APOCALYPTO



Pra um cineasta de apenas quatro filmes no currículo, é impressionante como Mel Gibson já revela um forte traço autoral e uma força dramática arrebatadora. Seu gosto pela violência é uma forte marca e é algo que já começou a se revelar em seu segundo filme, CORAÇÃO VALENTE (1995), vencedor dos Oscars de melhor filme e direção. Mas foi com A PAIXÃO DE CRISTO (2004), o melhor filme bíblico que eu já vi na vida, que ele mostrou a que veio. Foi através da história das últimas horas de Jesus na Terra que ele demonstrou coragem para encarar projetos complicados, usando seu próprio dinheiro para financiar os seus filmes. Nos últimos anos a palavra "polêmica" e o nome "Mel Gibson" estiveram juntos por várias vezes. Seja pela acusação de anti-semitismo, seja pelas declarações anti-homossexuais, seja por dirigir embriagado, Mel Gibson foi alvo da mídia diversas vezes nos últimos anos.

O novo trabalho, APOCALYPTO (2006), é o tipo de filme que, como o próprio Mel disse, só um louco faria. É um filme desafiador. O diretor se embrenhou na mata com um elenco de desconhecidos com aspecto de índio para fazer um filme de perseguição falado num dialeto maia. Gibson conseguiu colocar mais um filme falado numa língua estranha nos cinemas americanos e mais uma vez foi bem sucedido nas bilheterias.

Na trama de APOCALYPTO, Pata de Jaguar é um caçador cuja tribo sofre um genocídio promovido por guerreiros maias que seqüestram os sobreviventes para serem oferecidos em sacrifício ao deus do sol Kulkulkan. A temática do sacrifício, tão cara à religião católica, é novamente centro das atenções em mais um filme do diretor. Talvez a principal diferença nesse novo filme seja o fato de que o suposto sacrificado não aceita seu destino como um cordeiro pronto para o abate. Pata de Jaguar, o protagonista, escapa fedendo de ser mais um a ter o seu coração arrancado e sua cabeça decepada e jogada à multidão sedenta de sangue. Para aquele povo, cada pessoa sacrificada representaria mais uma chance de que os deuses os abençoassem, mas também era uma forma sádica de se divertir.

APOCALYPTO seria uma estranha mistura de A MONTANHA SAGRADA, de Alejandro Jodorowski, com RAMBO: PROGRAMADO PARA MATAR, de Ted Kotcheff. Do filme de Jodorowski, temos o desfile de bizarrices, apresentado principalmente quando Pata de Jaguar adentra a cidade maia. De RAMBO, temos a luta pela sobrevivência de um homem que cresceu na floresta e que pode usar os seus conhecimentos de campo para lutar contra seus inimigos. Uma de suas maiores motivações para permanecer vivo é encontrar a sua esposa grávida e seu filho pequeno, que estão presos dentro de um buraco, esperando por ele.

A valorização da família e da paternidade é outro tema forte do filme e já é mostrado com força logo no primeiro diálogo do filme, depois da cena de caça a uma anta. Nesse diálogo, conhecemos o caso de um dos homens que não consegue engravidar a mulher e, por causa disso, acaba ganhando uma dupla pegadinha de seu pai e seus irmãos. Essas pegadinhas também são bastante familiares pra quem se lembra do Mel Gibson ator sacaneando o Danny Glover nos filmes da série MÁQUINA MORTÍFERA. Mel Gibson pode gostar desse tipo de brincadeira, mas quando o assunto é cinema, ele parece levar tudo muito a sério. Inclusive, se Gibson preferir abandonar a carreira de ator para continuar a dirigir grandes filmes como esse, eu dou o maior apoio.

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