terça-feira, dezembro 05, 2006

UM BOM ANO (A Good Year)



Sabemos que o dia-a-dia nas grandes cidades é altamente nocivo para a nossa saúde, física e espiritual. Mesmo assim, eu não tenho a mínima vontade de morar num lugar afastado, no interior, talvez porque eu ia perder a chance de ver filmes no cinema. Tirando esse pequeno (e importante) detalhe, tem dias que me dá muita vontade de acordar num lugar mais tranqüilo, respirar um ar puro, livrar-me um pouco de minha paranóia e ansiedade crescentes, poder caminhar ao contato com a natureza. De preferência, claro, sem um sol tão agressivo quanto o do sertão cearense ou de Fortaleza. Aqui no Ceará, a boa pedida seriam as regiões serranas, de clima mais ameno.

Filmes como SOB O SOL DE TOSCANA, com a Diane Lane, e UM BOM ANO (2006), de Ridley Scott, são exemplos de filmes-aviso ou filmes-conselho. Eles existem para - entre outras coisas - nos mostrar o quanto devemos valorizar as coisas simples da vida e escolher sempre o melhor pra gente. São filmes que valorizam o bucólico. Esses dois filmes são também devedores do cinema europeu. Se SOB O SOL DE TOSCANA homenageava Fellini, o filme de Ridley Scoot presta tributo ao cinema de Jacques Tati.

UM BOM ANO é também a prova de que Ridley Scott, quando longe dos filmes de ação, volta a fazer bons filmes. Por isso que prefiro os dramas de Scott - OS VIGARISTAS (2003), THELMA & LOUISE (1991), TORMENTA (1996), OS DUELISTAS (1977). Ele tem a mão boa para dramas e deveria se ater mais ao gênero do que ficar contribuindo para a venda de analgésicos nas farmácias, quando faz coisas como GLADIADOR (2000) ou FALCÃO NEGRO EM PERIGO (2001).

Em UM BOM ANO, Russell Crowe - sempre um ótimo ator e que estará novamente com Scott em seu próximo trabalho, AMERICAN GANGSTER (2007) - é um executivo inescrupuloso e cínico, que leva uma vida onde o ganhar dinheiro é a principal meta. Ele abandonou até a única pessoa de quem ele realmente gostava: o seu tio (Albert Finney). É quando ele recebe uma carta avisando da morte do tio. Ele começa então a recordar dos momentos felizes que passou na infância com o tio numa fazenda-vinícola em Provence, na Riviera Francesa. Como ele é o único herdeiro do tio, ele faz uma viagem para lá, com o principal objetivo de vender o lugar. Mas, como era de se esperar, seus planos sofrerão uma mudança e o lugar e as pessoas dali serão de fundamental importância para a construção de uma nova pessoa.

Interessante que não há, no filme, a intenção de causar grandes surpresas. Tudo acontece naturalmente. A aparição das duas belas mulheres na trama (Marion Cottillard e Abbie Cornish) não tem um impacto tão perturbador ou intoxicante, como poderia causar. Quando Russell Crowe diz estar apaixonado, ele fala isso com serenidade, sem medos e perturbações. O clima do lugar tem essa magia que transforma positivamente aqueles que lá estão. Um dos momentos mais belos do filme é quando Crowe está jantando com Archie Panjabi num restaurante à noite. Ao fundo, vemos um telão com cenas de filmes de Jacques Tati. De repente, começa a chover. Chuva, cinema, mulher bonita, promessa de felicidade e um bom vinho. O que mais se pode querer da vida?

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