segunda-feira, dezembro 04, 2006

O LABIRINTO DO FAUNO (El Laberinto del Fauno / Pan's Labyrinth)



Simplesmente fantástico O LABIRINTO DO FAUNO (2006), o filme que pode ser facilmente considerado a obra-prima de Guillermo Del Toro. Jamais imaginei que fosse gostar tanto desse filme, já que, até então, o único filme do diretor que eu tinha gostado de verdade havia sido CRONOS (1993), a sua estréia na direção de longas-metragens. A ESPINHA DO DIABO (2001), eu vi com muito sono e não sei dizer se isso foi culpa do filme ou do meu corpo cansado. Felizmente, o novo filme de Del Toro é tão empolgante que o extremo contraste entre o mundo real e o mundo fantasioso está longe de ser uma mistura indigesta. Ao contrário, o cenário violento da Guerra Civil Espanhola é capaz de deixar o nosso sangue intoxicado e pronto para encarar os piores desafios.

Para um filme que é vendido como uma fantasia protagonizada por uma criança, e povoada de criaturas estranhas, O LABIRINTO DO FAUNO subverte tudo isso com uma violência brutal que torna o filme mais próximo do cinema de horror do que do cinema de fantasia. Quer dizer, quem for ao cinema achando que vai ver um filme infantil vai quebrar a cara. E apesar de haver monstros horripilantes como o sapo gigante e a criatura com os olhos nas mãos (fantástico aquilo!), o maior de todos os monstros do filme é mesmo o terrível Capitão Vidal (Sergi López). O primeiro ato de violência desse homem pega a todos de surpresa. Ele esmaga a cabeça de um camponês de maneira parecida com a cena do extintor de incêndio em IRREVERSÍVEL, de Gaspar Noe.

Na trama, a menina Ofelia (Ivana Baquero) muda-se com a mãe grávida (Ariadna Gil) para uma velha casa numa área rural da Espanha na época da Guerra Civil. É lá que está instalada uma tropa chefiada pelo Capitão Vidal que tem o objetivo de capturar membros da resistência que se escondem na floresta. No meio do caminho, Ofelia avista uma espécie de louva-a-deus ou gafanhoto que, de tão estranho, ela imagina se tratar de uma fada. O bicho a segue até a sua nova casa e vai ser de grande importância para o encontro da menina com o Fauno que habita um labirinto próximo da casa. Além do Fauno, há outra personagem bastante importante para a trama: Mercedes (Maribel Verdú, de E SUA MÃE TAMBÉM), uma mulher que trabalha como assistente do Capitão Vidal, mas que oferece ajuda às escondidas a membros da resistência.

Entre os elementos recorrentes no cinema de Del Toro está a sua obsessão por insetos (escaravelhos, gafanhotos etc.) que se apresenta desde CRONOS, passando por suas incursões pelo cinema de Hollywood - MUTAÇÃO (1997), BLADE 2 (2002) e HELLBOY (2004). O interesse por criaturas monstruosas também não é novidade nos filmes de Del Toro. Porém, nunca esses elementos (e essas criaturas) se mostraram de uma maneira tão bem construída como em O LABIRINTO DO FAUNO. Na verdade, tenho dificuldade de encontrar palavras para descrever a excelência desse filme e o modo como ele mexeu comigo. Talvez parte disso se deva ao sentimento de medo que o filme provoca. Não há como escapar. Seja no mundo real, seja no mundo fantasioso, a ameaça sempre estará presente, nas suas mais diversas formas.

O LABIRINTO DO FAUNO foi comparado a um filme da década de 70, chamado O ESPÍRITO DA COLMÉIA, de Victor Erice. Fiquei bastante curioso para conferir esse também, embora acredite que seja difícil de encontrar.

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