terça-feira, dezembro 19, 2006

O ILUSIONISTA (The Illusionist)



Não é só o futebol que é uma caixinha de surpresas. O cinema também é. E é bastante comum os trailers enganarem. Eles podem vender o produto muito bem e acabar desapontando quando a gente vê o produto final (KING KONG, 007 - CASSINO ROYALE); como podem vender mal e afastar muita gente de conferir um ótimo filme. É o caso de O ILUSIONISTA (2006), que passa a impressão de ser apenas um concorrente de categoria inferior de O GRANDE TRUQUE, de Christopher Nolan. De vez em quando acontece de os estúdios fazerem filmes com temas similares. Lembram de ROBIN HOOD, O PRÍNCIPE DOS LADRÕES disputando com ROBIN HOOD, O HERÓI DOS LADRÕES? E de FORMIGUINHAZ contra VIDA DE INSETO? Deve haver outros exemplos, mas me fogem à memória. Entre O ILUSIONISTA e O GRANDE TRUQUE, fico com O ILUSIONISTA.

Em diversos aspectos, o filme de Neil Burger é superior. Desde a belíssima direção de arte às acertadas interpretações de Paul Giamatti e Edward Norton, passando pela fotografia que emula o cinema produzido no início do século XX até a excepcional trilha sonora de Philip Glass. Mas o melhor do filme é mesmo a envolvente condução narrativa a cargo do diretor e roteirista Neil Burger, que conta com apenas um outro filme em seu currículo, o inédito no Brasil INTERVIEW WITH THE ASSASSIN (2002).

Em O ILUSIONISTA, Edward Norton é Eisenheim, um mágico ilusionista que durante a infância teve uma história de amor com Sophie. Ele, plebeu, ela, pertencente à nobreza. Quando ele cresce, retorna à Viena como um ilusionista capaz de encantar as platéias com truques (ou seria magia?) inimagináveis - destaque para o truque da laranjeira. Quando ele chega em Viena, sua amada (Jessica Biel) está prometida ao príncipe-herdeiro (Rufus Sewell). Paul Giamatti interpreta o inspetor de polícia da cidade. A estória se passa no final do século XIX, no apogeu do Império Austro-Húngaro.

Cada espetáculo de Eisenheim é visto com muito interesse, tanto pela platéia presente no teatro, quanto pelos espectadores do filme. O filme lida com assuntos interessantes como a discussão sobre a existência de um mundo espiritual em plena época onde o materialismo era dominante, a luta de classes e a própria natureza da ilusão. Quem ilude mais o povo, os mágicos ou os políticos? A principal elipse, que é aquela que segue o plano de Eisenheim e Sophie fugirem da cidade, funciona inteligentemente a favor do filme, que só entrega as revelações nos últimos minutos. Há quem desgoste dessas revelações finais e, por isso, acaba por condenar o filme inteiro, mas eu não vejo problema algum com o final, que ainda por cima conta com aquele belo plano da câmera rodopiando em Paul Giamatti, em expressão de maravilhamento. Assim como boa parte da platéia, diante desse belo exemplar de bom cinema.

P.S.: A nova coluna está no ar no site do CCR. Falo sobre os filmes mais aguardados de 2007. Confiram!