sexta-feira, outubro 06, 2006

GHOST WORLD - APRENDENDO A VIVER / MUNDO CÃO (Ghost World)



Já assisti DÁLIA NEGRA, mas ainda estou em processo de digestão e prefiro falar agora de um filme mais leve e despretensioso. Se bem que nem tão despretensioso assim, já que estamos falando de pessoas que sentem dificuldade de se relacionar normalmente com a sociedade, de pessoas outsiders - o termo "marginais" fica muito pesado. GHOST WORLD (2001) tem em comum com o citado filme de Brian De Palma a presença de Scarlett Johansson, que cinco anos atrás ainda parecia uma adolescente.

Não conheço a obra em quadrinhos de Daniel Clowes, mas a julgar pelos poucos desenhos que vi, e comparando principalmente com a personagem Enid, interpretada no filme por Thora Birch, ao que parece Terry Zwigoff fez uma adaptação brilhante. Antes de GHOST WORLD, Zwigoff havia realizado CRUMB (1994), um documentário sobre a vida e a obra do mestre dos quadrinhos Robert Crumb. E pra não deixar nenhuma dúvida de que ele é um grande fã de quadrinhos, o novo filme do diretor é ART SCHOOL CONFIDENTIAL (2006), novamente baseado numa história de Daniel Clowes.

Eu diria que é impossível assistir GHOST WORLD e não gostar de Enid, a garota sem turma que tem como melhor amiga Rebecca (Scarlett Johansson). As duas acabaram de terminar o segundo grau e não tem o menor interesse em ingressar na faculdade. Na verdade, elas ainda não sabem o que querem da vida. Na falta do que fazer, elas prestam atenção em algumas pessoas que encontram na lanchonete e começam a seguir essas pessoas. É quando elas conhecem Seymour (Steve Buscemi, em seu papel mais simpático), um sujeito que também tem dificuldade de se socializar e vive em seu mundinho de colecionador de discos raros. Em certo momento, Seymour fala para Enid: "eu não consigo me relacionar com 99% da humanidade." Enid começa a achar interessante o jeitão diferente de Seymour e os dois começam uma interessante amizade.

O barato do filme é que ele vai ficando meio depressivo quando se aproxima do final, tendo inclusive, uma música mais triste que acentua a solidão dos personagens. E é justamente quando eu estou começando a curtir pra valer o filme que ele acaba. Mas as quase duas horas de filme são suficientes para que simpatizemos bastante com Enid e Seymour, esses dois amáveis seres criados pela mente de Daniel Clowes. Thora Birch pode não ser bonita, mas ela incorpora a personagem estilosa e cínica tão bem que não conseguimos imaginar outra atriz para o papel. Steve Buscemi também ficou perfeito como o sujeito que tem uma relação de amor e ódio consigo mesmo. Outro momento memorável é quando Enid diz pra Seymour que ele precisa encontrar mulheres que compartilham com os mesmo interesses dele. E ele diz que não sabe se quer encontrar tal pessoa, já que ele odeia os seus próprios interesses. Muito legal isso.

Tem outra cena do filme muito boa. Enid está numa locadora quando aparece um sujeito e pergunta ao balconista: "você tem o filme 8 E 1/2?". O atendente responde: "É um lançamento recente?" "Não, é um clássico". "Então deixa eu ver no computador. Ah, achei. Aqui está: 9 E 1/2 SEMANAS DE AMOR. Na sessão de dramas eróticos." Pior que isso é bem comum mesmo em locadora. Impressionante como tem gente que não sabe absolutamente nada de cinema trabalhando nesses lugares. Dia desses perguntei se tinha O TERROR DAS MULHERES e a moça fez cara de quem nunca tinha ouvido falar no filme. E da vez que eu perguntei sobre O PROFESSOR ALOPRADO (o do Jerry Lewis), a moça perguntou: "o 1 ou o 2"?

P.S.: Ontem eu galguei mais um degrau na escada da fama. :>) Dei uma pequena entrevista para uma rede de televisão local (TV Assembléia) que estava fazendo uma reportagem sobre blogs. Acho que não me saí muito bem - não estou acostumado com um microfone e uma câmera na minha frente - e tenho minhas dúvidas se eu vou conseguir ver o programa algum dia. Se não tiver sido exibido hoje, deve rolar na próxima semana no jornal das sete da noite.

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