terça-feira, setembro 05, 2006

EU



Para um filme considerado por muitos como o pior dos estrelados por Marcelo, o alter-ego de Walter Hugo Khouri, EU (1986) até que é bastante interessante e um dos mais ricos em explorar a mitologia do personagem. Sem falar que ele é bem superior a PAIXÃO PERDIDA (1998), o último filme de Khouri e também o último do "ciclo Marcelo".

A primeira vez que eu vi EU foi na adolescência e pela televisão. A única coisa de que eu me lembrava era da Monique Evans nua e da cena em que ela chega de helicóptero na ilha de Marcelo (Tarcísio Meira). Na minha cabeça, o filme era bem mais erótico do que eu achei agora. Na revisão, EU me pareceu quase um filme de terror, sendo que Marcelo seria uma espécie de vampiro - ele não parava de olhar para o pescoço das mulheres. A cena dele com as duas garotas de programa (Nicole Puzzi e Monique Lafond) é bem explícita nesse sentido. Bem como a seqüência final, quando a câmera congela na imagem demoníaca do rosto de Tarcísio Meira.

Marcelo seria, então, uma pessoa amaldiçoada pelo vazio que o destrói por dentro e o força a buscar desesperadamente o sexo como válvula de escape para atenuar a angústia da falta de sentido na vida. Sua busca por sexo também tem raízes profundas e ligadas aos complexos de Édipo e de Electra. Em AMOR, ESTRANHO AMOR (1982), o protagonista, quando garoto, transa com a própria mãe. Mas apesar de ter estreitas ligações com os filmes do ciclo Marcelo, no polêmico filme de 82, o protagonista não se chama Marcelo, mas Hugo, aproximando-se ainda mais do nome do diretor. Numa cena de EU, quando as três garotas de programa comentam na praia sobre o poder de sedução de Marcelo, Renata (Monique Lafond) até chega a dizer que suspeita que Marcelo esteja comendo a própria filha (Bia Seidl) e que no passado comeu a própria mãe. Imaginei que isso se trata de uma referência a AMOR, ESTRANHO AMOR. Outro filme de Khouri citado em EU é PALÁCIO DOS ANJOS (1970), quando Christiane Torloni olha para o mar e passa um navio soltando um apito grave. Já a chegada de Monique Evans de helicóptero nos faz lembrar imediatamente de A DOCE VIDA, de Fellini.

EU é talvez o filme de Khouri que tem o maior acervo de mulheres gostosas. A começar pelo marketing pesado em cima de Monique Evans, que é quem tem o corpo mais explorado no filme, ainda que apareça bem menos que as demais. Nos créditos, inclusive, aparece "introduzindo Monique Evans". A palavra "introduzindo" não deixa de passar uma dupla conotação.

Na trama, Marcelo passa o natal em sua casa de praia e leva consigo duas garotas de programa. A confusão começa quando chega de surpresa a sua filha, acompanhada de uma amiga. Pra aumentar ainda mais a confusão, uma outra mulher está pra chegar. Assim, Marcelo fica rodeado de mulheres. Ele deseja a todas, todas o desejam. Inclusive a filha. A personagem de Nicole Puzzi é bem interessante e eu destaco a cena em que ela conta da grande atração que tinha pelo próprio pai e do dia em que o seu pai morreu e ela teve a oportunidade de dar banho nele, tocando em todas as partes de seu corpo.

Fiz uma pesquisa sobre os filmes de Khouri que apresentam o personagem Marcelo e fiz a relação abaixo, com os títulos, datas e o nome do ator que interpretou o papel.

AS AMOROSAS (1968) - Paulo José
O ÚLTIMO ÊXTASE (1973) - Wilfred Khouri
O DESEJO (1975) - Fernando Amaral
PAIXÃO E SOMBRAS (1977) - Fernando Amaral
O PRISIONEIRO DO SEXO (1978) - Roberto Maya
CONVITE AO PRAZER (1980) - Roberto Maya
EROS, O DEUS DO AMOR (1981) - Roberto Maya
EU (1986) - Tarcísio Meira
FOREVER (1991) - Ben Gazzarra
PAIXÃO PERDIDA (1998) - Antônio Fagundes

Na dúvida, e esperando que alguém me responda: em relação a O ANJO DA NOITE (1974), no IMDB consta que um dos personagens desse filme chama-se Marcelo (Pedro Coelho). No entanto, ele se diferencia bastante dos outros filmes de Khouri. Assim como AS FILHAS DO FOGO (1978), O ANJO DA NOITE é considerado do gênero terror. Afinal, o Marcelo de O ANJO DA NOITE é o velho Marcelo que a gente conhece?

Agradecimentos ao amigo Sandro Ramos que fez a gentileza de gravar o filme do Canal Brasil.

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