segunda-feira, julho 31, 2006

INDUSTRIAL SYMPHONY No. 1: THE DREAM OF THE BROKEN HEARTED



No começo da década de 90, David Lynch estava no auge da popularidade. Sua série TWIN PEAKS (1990) atingiu picos de audiência impressionantes para uma obra tão intrincada e estranha e seu longa-metragem mais recente, CORAÇÃO SELVAGEM (1990), havia papado a Palma de Ouro no Festival de Cannes, numa decisão bastante corajosa do júri da época. Também nessa época, Lynch dirigiu uma outra série de televisão: AMERICAN CHRONICLES (1990), que mostrava em formato documentário aspectos pouco comuns da sociedade americana. Em meio a esse cenário, David Lynch e seu compositor de trilhas favorito Angelo Badalamenti produziram esse musical para a televisão.

INDUSTRIAL SYMPHONY No. 1: THE DREAM OF THE BROKEN HEARTED (1990) é mais um produto de TWIN PEAKS, dentre os vários que surgiram por ocasião da popularidade da série - eu mesmo fui um dos que compraram o "Diário Secreto de Laura Palmer". INDUSTRIAL SYMPHONY No. 1 não é apenas um show de Julee Cruise, é também um espetáculo teatral que nos dá uma idéia de como seria se um dia fôssemos ao teatro para ver uma peça de Lynch. Não faltam as esquisitices características do diretor. O que pode diminuir um pouco o valor do trabalho é que Lynch não pôde movimentar sua câmera no teatro como ele faz no cinema. Desse modo, não dá pra encarar esse show como um espetáculo cinematográfico. Por isso que INDUSTRIAL SYMPHONY No. 1 é mais indicado aos fãs do diretor, da série, ou de Julee Cruise.

As canções mais famosas que Julee canta, conhecidas de quem tem ou já ouviu a trilha sonora da série, são "Into the Night" (linda e misteriosa!) e "Rockin' Back Inside My Heart". Lynch também não abre mão da sensualidade, aspecto bastante presente em quase todos os seus filmes. Durante "Up in Flames", uma jovem dança com os seios de fora, e durante o "discurso" de Michael J. Anderson, o anão da série, uma outra jovem se toca de maneira sensual.

INDUSTRIAL SYMPHONY No. 1 começa com um o videotape de um diálogo entre Laura Dern e Nicolas Cage, retirado de CORAÇÃO SELVAGEM. Lynch, o grande mestre do mistério, faz com que nós captemos o medo da personagem de Laura Dern, que se sente sozinha com a partida do amado. Lynch preeche seus diálogos com silêncios aterradores ou ruídos perturbadores. Essa técnica seria ainda melhor desenvolvida em seus trabalhos posteriores.

Porém, quem brilha mais em INDUSTRIAL SYMPHONY é mesmo Julee Cruise e sua voz etérea. Seu timbre de voz tem algo de angelical, como se estivéssemos sonhando e adentrássemos um outro plano da existência. Sua parceria com Lynch e com Badalamenti é um desses casos de química perfeita. Julee aparece várias vezes flutuando no palco como a Sininho de "Peter Pan". Gosto também quando seu rosto aparece num televisor, talvez um das melhores momentos visuais do show. Lá pela metade, o espetáculo começa a cansar um pouco, mas acredito que com a revisão, essa impressão deve diminuir, já que música é melhor apreciada com as revisões.

Agradecimentos ao amigão Renato Doho, que gravou pra mim esse show em divx.

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