quinta-feira, março 23, 2006

DUMPLINGS (Gaau Ji)

 

Se na semana passada eu me concentrei no cinema francês, essa semana o foco vai ser cinema oriental. Poucas horas antes de assistir 2046, de Kar-wai, aproveitei meu dia de folga para conferir em divx a versão em longa-metragem de DUMPLINGS (2004), de Fruit Chan. Que beleza de filme, narrado com uma sobriedade bastante interessante para um representante do cinema fantástico. 

Em DUMPLINGS, Fruit Chan procura adotar uma narrativa mais realista, tornando bem mais verossímil a história da mulher que vende pasteizinhos feitos com carne de feto humano que fazem com que as pessoas alcancem a eterna juventude. O tema da juventude que se esvai, creio que seja de interesse de todos, já que o tempo é implacável para todo mundo. Acredito que para as mulheres essa preocupação seja ainda maior. No caso da personagem do filme, ela é uma atriz decadente que sente que seu marido a está trocando por uma moça mais jovem. Inicialmente, os pastéis parecem para ela repulsivos. Pra gente também, já que o som do filme e a aparência meio melada da comida fazem com que nós sintamos um certo nojo. 

O tema parece uma atualização do vampirismo e do canibalismo e guarda alguma semelhança com MORTOS DE FOME, de Antonia Bird, que mostrava pessoas que viviam para sempre ao comer carne humana. Se DUMPLINGS se limitasse apenas a isso, com certeza não seria tão bom. Algumas das melhores cenas dizem respeito ao aborto em si. Fruit Chan fez um filme que além de mostrar a sociedade narcisista dos dias de hoje, ainda critica o rígido controle de natalidade da China. A primeira cena de aborto apresentada no filme é de deixar a gente sem piscar os olhos. 

Suspeito que a versão mais curta de DUMPLINGS seja mesmo o melhor segmento da antologia TRÊS EXTREMOS (2004), que trazia também obras dos cineastas mais conhecidos Takashi Miike e Chan-wook Park. A fotografia de DUMPLINGS é lindona, a cargo do celebrado Christopher Doyle. O filme é uma prova de que a nova geração de cineastas de Hong Kong veio mesmo pra ficar. Fico imaginando o quanto nós estamos perdendo com nossa falta de oportunidade de acompanhar mais filmes vindo de lá.

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