sexta-feira, março 31, 2006

UMA MULHER É UMA MULHER (Une Femme Est une Femme)

 

Continuando minha peregrinação pela obra de Jean-Luc Godard, falo sobre UMA MULHER É UMA MULHER (1961), segundo longa-metragem e primeira experiência com as cores e com o cinemascope do diretor. O filme é muito agradável de se ver. Brinca - ou subverte - com a comédia romântica e com o musical clássico americano. A assinatura do diretor é inconfundível e a fotografia é linda. Gosto muito dos travellings no clube de striptease

UMA MULHER É UMA MULHER foi o trabalho que marcou o início da parceria de Godard com Anna Karina, que apareceria em mais seis filmes do diretor - VIVER A VIDA (1962), O PEQUENO SOLDADO (lançado em 1963 mas produzido em 1960, antes, então, de UMA MULHER É UM MULHER), BAND À PART (1964), ALPHAVILLE (1965), O DEMÔNIO DAS ONZE HORAS (1965) e MADE IN USA (1966). Ela foi a musa do diretor durante esse período. Dizem que quando o relacionamento dos dois acabou, Godard ficou ranzinza, nunca mais foi o mesmo. O caso Godard-Karina é um exemplo clássico de como uma mulher influencia fortemente a obra de um artista. Basta lembrar também das mulheres que passaram pela vida de Woody Allen (Diane Keaton, Mia Farrow) e de Tim Burton (Lisa Marie, Helena Bonham Carter). Temos também o caso de Kenneth Branagh, que praticamente afundou sua carreira depois da separação com Emma Thompson. Outros exemplos de parceria marcante de diretor e atriz/esposa: Rossellini e Ingrid Bergman, Antonioni e Monica Vitti. 

Alguns dos momentos mais divertidos de UMA MULHER É UMA MULHER são aqueles que mostram Jean-Claude Brialy e Anna Karina xingando-se com a utilização de livros, já que eles não estavam falando um com o outro. Eles se levantam da cama, pegam o abajur e vão atrás de livros nas estantes, procurando palavras ou frases que possam agredir o outro. Achei bastante estranho o relacionamento dos dois. Karina faz o papel de uma mulher que trabalha como stripper para ajudar na renda familiar. Achei estranho também o fato de o seu namorado não ser possessivo ou ciumento. Ela deseja engravidar e ele não gosta nada da idéia, fugindo como o diabo foge da cruz. 

UMA MULHER É UMA MULHER é um filme muito bem humorado. Mas é aquele humor tipicamente godardiano. Não é filme pra rir, mas pra sorrir. O único momento melancólico do filme é aquele que mostra Karina e Jean-Paul Belmondo num bar e a vitrola tocando uma canção de Charles Aznavour. ATIREM NO PIANISTA, de Truffaut, inclusive, é citado numa cena. Parece que os amigos da Nouvelle Vague ajudavam-se mutuamente. 

Ainda não foi o filme que me tornou um fã de Godard - ACOSSADO (1960) continua liderando minhas preferências -, mas é, sem dúvida, um belo filme. Não virei fã talvez por não ser adepto desse cinema excessivamente autoconsciente de ser cinema, de nunca se levar a sério. Mas isso é Godard. Sei que não posso querer algo diferente vindo dele. Ao menos nesse período. A cópia que eu consegui foi ripada do DVD da Criterion. Coisa fina. 

Agradecimentos à Carol, que me conseguiu essa cópia. Inclusive, quem estiver interessado em filmes do acervo dela, é só passar um e-mail para ela. A Carol tem cópias raras, algumas delas com legendas em português, de vários filmes de vanguarda.

quinta-feira, março 30, 2006

O GIGANTE DE FERRO (The Iron Giant)


Que beleza de filme! O GIGANTE DE FERRO (1999) traz de volta o prazer de se ver um filme de animação tradicional - e que não seja japonês. Se bem que o filme mistura um pouco animação computadorizada (o Gigante de Ferro) com animação tradicional (tudo ao seu redor). Brad Bird, que dirigiria em seguida o ótimo OS INCRÍVEIS (2004), fez um filme que agrada tanto crianças quanto adultos.

O GIGANTE DE FERRO tem uma atmosfera saudosista irresistível. Mesmo que não tenhamos vivido os anos 50, possivelmente já vimos algumas sessões da tarde e alguns desenhos animados que lembram bastante aquilo que é mostrado no filme. A década de 50 foi marcada pela paranóia da Guerra Fria, da bomba atômica. Impagável a cena em que mostram num cinema um filme sobre a importância de se abrigar debaixo da mesa quando o alarme alertar a chegada da bomba. Estando debaixo da mesa, tudo ao seu redor explodirá, mas você sairá ileso. Era uma época de maior inocência na sociedade americana. Mas também de maior intolerância com o desconhecido. Bom, as coisas não mudaram muito de lá pra cá nesse segundo quesito.

Na trama, um garotinho que vive sozinho com a mãe (não lembro se o filme diz se ela é solteira, viúva ou divorciada) vai brincar no bosque perto de sua casa e dá de cara com um robô gigante que come coisas de metal. O robô não se dá conta que está diante de fios de alta tensão e acaba levando um grande choque. Com pena do robô, o garoto vai até a chave mestra e desliga a energia elétrica, salvando o gigante. O gigantesco homem de ferro sente-se muito agradecido e passa a ficar amigo do garotinho. Aos poucos ele vai entendendo o ser humano e aprendendo um pouco da língua. A coisa começa a se complicar quando um homem do governo passa a perseguir o robô.

Comparando com OS INCRÍVEIS, O GIGANTE DE FERRO ganha em alguns pontos. Principalmente na história e na capacidade de fazer emocionar. Há muitos momentos realmente tocantes no filme, como aquela cena que homenageia o BAMBI da Disney. A companhia viu a qualidade dessa produção da Warner e contratou o diretor para dirigir OS INCRÍVEIS.

Vi O GIGANTE DE FERRO em divx, imagem em widescreen 2,35:1, mas o filme saiu em DVD no Brasil. Só não sei se a edição nacional está respeitando o aspecto original. Quem faz a voz do Gigante é o Vin Diesel, da mãe do garoto é a Jennifer Aniston, e do Dean, Harry Connick Jr. 

quarta-feira, março 29, 2006

UM PLANO PERFEITO (Inside Man)

 

Se for pra escolher entre o filme de assalto tenso e violento e o filme de assalto leve, limpo e inteligente, fico com o tenso e violento. Sou mais um filme como UM DIA DE CÃO ou O HOMEM QUE BURLOU A MÁFIA do que títulos como ONZE HOMENS E UM SEGREDO ou THOMAS CROWN - A ARTE DO CRIME. Esse segundo subgênero em geral me dá sono, me aborrece até. Exceção, talvez, para UMA SAÍDA DE MESTRE, que por alguma razão que eu não sei explicar me agradou muitíssimo. Quando ouvi comparações do novo filme de Spike Lee com UM DIA DE CÃO, o super-clássico de Sidney Lumet, fiquei bastante entusiasmado. Porém, para minha decepção, O PLANO PERFEITO (2006) se aproxima mais do filme de assalto inteligente e enganador. Resultado: fiquei com sono no cinema, coisa que eu odeio. Se for pra sentir sono durante o filme, que seja em casa, onde posso interromper a fita ou o DVD pra tirar uma soneca e depois retomar de onde parei. (Se bem que vem a dúvida cruel: senti sono porque não estava gostando do filme, ou não gostei do filme porque senti sono?) 

O PLANO PERFEITO é um filme atípico na carreira de Spike Lee, marcada em sua maioria por filmes que abordam questões sociais e étnicas. Geralmente, seus filmes são produções de baixo orçamento, mas que contam com nomes famosos de Hollywood. Vários de seus filmes, inclusive, são lançadas no Brasil apenas no mercado de vídeo. À primeira vista, O PLANO PERFEITO parece apenas mais um thriller convencional, sem uma marca autoral. À segunda vista, também. Na verdade, não consigo ver O PLANO PERFEITO como um filme de Spike Lee. Não que haja algo de errado em se fazer trabalhos mais comerciais e conseguir um bom dinheiro com isso. É que é tudo muito estranho. 

A personagem de Jodie Foster, por exemplo, é a mais enigmática. Não dá pra entender direito que tipo de pessoa ela é. Uma espécie de lobista, ouvi dizerem. Uma pessoa com forte influência política. Talvez a sua personagem seja a chave para entender o filme. Denzel Washington continua muito bem, mas parece estar no piloto automático, no papel do policial meio malandro, dando a impressão de que a gente já viu esse filme antes. Completa a trinca principal, Clive Owen, como o líder do assalto ao banco. 

As reflexões sociais estão presentes nos detalhes. A que eu mais gostei foi aquela do garotinho e o seu mini-videogame violento. O menino é fã do lema de 50 Cent, que diz "get rich or die trying". No fim das contas, fiquei sem entender se essa crítica seria ao novo rap americano tão ligado à riqueza e ao luxo ou se esse rap do 50 Cent já não carregaria em si uma certa ironia ao capitalismo nos Estados Unidos. Apesar dessas sutilezas, O PLANO PERFEITO não deixa de ser mais um blockbuster com um diretor talentoso atrás das câmeras. Pode ser mais do que isso, pode até ser um dos melhores filmes do diretor, mas fazer o que se ele não me impressionou em momento algum? Enquanto isso, fico torcendo pelo retorno do Spike Lee que eu aprendi a gostar. E de grandes filmes como FAÇA A COISA CERTA (1989) e A ÚLTIMA NOITE (2002).

terça-feira, março 28, 2006

SAL DE PRATA

  

"Tem as pessoas que se masturbam pensando em alguém, e as pessoas que se masturbam pensando nelas mesmas. As primeiras são as mais bacanas, mas as outras ganham muito mais dinheiro." Até que eu gostei dessa frase do filme, embora não tenha entendido direito. SAL DE PRATA (2005), de Carlos Gerbase, é um exemplo da falta de criatividade no cinema brasileiro. Em muitos filmes, o uso da metalinguagem pode significar um atestado de falta de idéias disfarçado de inteligência, de intelectualidade. O problema é que esse filme do Gerbase não engana ninguém. 

Em TOLERÂNCIA (2000), a trama até que era bem conduzida. Embora o filme não seja essas maravilhas, tinha a beleza de Maitê Proença, um tema interessante. E como diretor, Gerbase não é ruim. O que não dá pra entender é como os produtores aceitaram fazer um filme com um roteiro tão tosco. Se falta criatividade, porque não encomendar um roteiro de terceiros ou adaptar uma obra literária? Talvez a presença de Camila Pitanga e de Maria Fernanda Cândido no elenco tenha ajudado um pouco aos produtores aceitarem fazer o filme. Confesso que fui atraído por esse filme por causa do trailer, que mostrava essas duas atrizes juntas no mesmo quarto, na promessa de fazerem um menage à trois com um sujeito (Marcos Breda). Tudo propaganda enganosa. Nem mesmo nudez o filme tem. Ele até engana, com aquela introdução mostrando Camila Pitanga teoricamente nua, mas vista só dos ombros pra cima num quase close, falando sobre regras de censura nos filmes enquanto simula estar gozando. 

Uma discussão sobre os rumos do cinema atual também aparece numa cena. Afinal, cinema é cinema apenas se for feito em película, ou vale também vídeo, digital etc? É nesse momento que o personagem de Marcos Breda sofre um enfarte e morre. Sua namorada, a economista vivida por Maria Fernanda Cândido, procura então conhecer os roteiros não filmados que ele deixou. Aos poucos, vai descobrindo que ele estava tendo um caso com uma de suas atrizes (Camila Pitanga). Ao mesmo tempo, ela também estava com caso com outro cineasta de quinta categoria (Bruno Garcia). Quer dizer, é um desfile de chifres. Se tivesse mais gente, o filme poderia ser confundido com um daqueles westerns cheios de bois. 

O início de SAL DE PRATA é um pouco ridículo, mas ao menos a condução da estória não nos deixa aborrecidos. Além do mais, é sempre curioso ver um filme que se passa em Porto Alegre, longe do eixo Rio-São Paulo ou das caatingas nordestinas. SAL DE PRATA cai no buraco mesmo do meio pro final, quando vários cineastas tentam adaptar os roteiros de Breda. Aí não tem escapatória. Quando se acendem as luzes, o que sai da boca de muita gente é a frase: "que filminho de merda esse." E com razão.

segunda-feira, março 27, 2006

JOHN WOO EM DOIS FILMES

 

No começo dos anos 90, quando Jean-Claude Van Damme trouxe John Woo para os EUA e os seus filmes chineses começaram a chegar em vídeo no Brasil, eu não me entusiasmei muito pra assistí-los. A única amostra dos filmes pré-Hollywood de Woo que eu tinha visto era FERVURA MÁXIMA (1992), o filme com mais balas por segundo que eu já vi na vida. Embora eu goste de um bom tiroteio, achei aquela overdose de balas do filme bem exagerada. Desde então, só passei a acompanhar mesmo a carreira americana do diretor, à medida que os filmes chegavam aos cinemas, destaque para A OUTRA FACE (1997), seu melhor trabalho no ocidente. 

Como tenho o costume de andar pelas ruas do Centro olhando as bancas de revista, dei de cara com fitas VHS de THE KILLER (1989) e BALA NA CABEÇA (1990), as duas custando apenas dois reais, cada. Após uma rápida checada na qualidade aparente das fitas, resolvi arriscar e levá-las pra casa. Se não rodasse no videocassete, o prejuízo não ia ser tão grande. Felizmente elas rodaram. Só a fita de BALA NA CABEÇA que estava um pouco suja, mas deu pra ver o filme completo. Então, pra encerrar esse primeiro momento de "orientação" do blog, nada como dois super-clássicos da fase áurea de John Woo. 

THE KILLER - O MATADOR (Die Xue Shuang Xiong / The Killer) 

Engraçado como esses filmes de John Woo são carregados de sentimentalismo, coisa que eu sempre achei meio esquisita no diretor. Em alguns momentos, as emoções dos personagens e a música que toca ao fundo parecem meio cafonas, mas aos poucos a gente se acostuma e acha até legal. Surpreendentemente, o primeiro filme que me veio à mente enquanto assistia a THE KILLER foi SUBLIME OBSESSÃO, de Douglas Sirk. Sinopse do filme de Sirk: "playboy apaixona-se por uma viúva e passa a persegui-la. Ao tentar fugir, a mulher é atropelada e fica cega. Arrependido, o homem estuda medicina só para curá-la e fazer com que ela o veja com outros olhos." Na trama de THE KILLER algo semelhante acontece. Chow Yun-Fat é um assassino profissional que durante um de seus serviços cega acidentalmente uma moça. Sofrendo com o remorso, ele se aproxima da jovem, que agora tenta se adaptar ao mundo da escuridão. Ele aceita um novo trabalho, a fim de receber dinheiro para pagar uma cirurgia nos olhos da agora namorada. Ao mesmo tempo em que é perseguido pelos mesmos mafiosos que o contrataram, o matador também é vigiado pelo policial vivido por Danny Lee, que desde o início já guarda uma admiração pelo assassino bem intencionado. Um dos temas caros a John Woo é justamente o da valorização da amizade, do senso de companherismo. Apesar das diferenças, esses dois homens acabam gostando bastante um do outro. Claro que tudo é contado com muita bala, muita perseguição de carros, muito sangue jorrando em câmera lenta. Até mesmo os benditos pombos, marca registrada dos filmes de Woo, aparecem numa cena na igreja. THE KILLER talvez seja o grande filme do diretor, sua obra-prima.

BALA NA CABEÇA (Die Xue Jie Tou / Bullet in the Head)


Esse filme teve uma produção mais ousada, com uma reconstituição de época muito boa e cenas de guerra que envolvem muitos figurantes, armas e helicópteros. Nessa época, John Woo estava com tudo e suspeito que esse filme deve ter sido um dos mais caros que ele realizou em Hong Kong. O filme conta a história de três amigos bem diferentes que, após uma confusão, precisam fugir de Hong Kong. O país estava passando por uma processo complicado. Nas ruas havia muita confusão entre estudantes e policiais. As pessoas queriam se livrar do governo inglês. O clima era aquele de "xô, capitalismo inglês, que venha o comunismo chinês"! Os três rapazes saem dessa atmosfera hostil pra outra muito pior, quando decidem fugir para o Vietnã, justamente durante a fatídica guerra contra os Estados Unidos. Os três acabam se envolvendo com mafiosos e sendo capturados pelos vietcongues. O ator mais conhecido do filme é Tony Leung (de 2046 e AMOR À FLOR DA PELE). Gosto muito dos dois primeiros atos do filme, com ação non-stop. Nem dá muito tempo de pensar. O negócio é curtir as seqüências eletrizants de ação. Só não curti muito o último ato. Senti que Woo exagerou um pouco no melodrama e no comportamento e destino dos três personagens. Se não fosse por isso, BALA NA CABEÇA seria tão bom quanto THE KILLER.

domingo, março 26, 2006

ESPÍRITOS - A MORTE ESTÁ AO SEU LADO (Shutter)

 

Não tenho do que reclamar dessa onda de produções de terror vindas da Ásia. Estou me divertindo - e me assustando - bastante, além de estar também aprendendo um pouco mais sobre diferentes culturas. ESPÍRITOS - A MORTE ESTÁ AO SEU LADO (2004), produção tailandesa de dois diretores de nome esquisito, é a bola da vez. Para um filão que parece estar perdendo o fôlego devido às várias cópias, continuações e remakes, esse filme se saiu muito bem. A história é bem mais simples que a de O CHAMADO e bem mais assustadora que a de O GRITO. 

Na trama, jovem casal atropela acidentalmente uma garota na estrada. Desesperados com a situação, eles fogem do local do acidente. Aos poucos, coisas estranhas passam a acontecer com eles, a começar pelas fotografias que o rapaz tira. A maioria delas aparece com uma sombra por cima. E isso é apenas o começo de uma série de acontecimentos assustadores que o filme apresenta. 

O barato de ESPÍRITOS é que arrumaram até tempo para uma cena de alívio cômico, que deve ter matado de inveja os roteiristas de TODO MUNDO EM PÂNICO. Refiro-me à cena em que o rapaz está no banheiro e vê que o seu papel higiênico acabou. Ele pede, então, o papel à pessoa que está no sanitário vizinho. É uma cena de arrancar gargalhadas, mas essa é uma das poucas cenas, se não a única, em que existe algum humor. O filme aborda um assunto bastante sério e arrepiante, que é o do "encosto", do espírito que fica grudado na pessoa. Imagina você acordar de madrugada (perto das três horas, ainda por cima) e ver que alguém está puxando o teu cobertor. Ninguém quer isso, não é verdade? Sem dúvida, minha cota de sustos e arrepios pro dia de hoje já foi mais do que preenchida.

sexta-feira, março 24, 2006

SUICIDE CLUB (Jisatsu Saakuru / Suicide Circle)

 

Eu ia falar sobre esse filme numa resenha para o Cineprojeto 365, mas a turma acabou esfriando e o projeto está novamente na geladeira. Sabendo que, depois de tanto tempo que eu vi o filme, não faria mesmo nenhum texto inspirado ou digno de entrar no site, aqui estou eu fazendo mais um de meus textinhos superficiais para o blog. É mais um exercício de memória que de vez em quando eu me dou ao trabalho de fazer para dar conta dos vários filmes que vejo. Claro que antes eu preciso dar uma lida nuns textos sobre o filme a fim de refrescar minha memória. 

O meu interesse por SUICIDE CLUB (2002), de Shion Sono, veio desde as pequenas notas presentes nas primeiras edições da Cine Monstro. A premissa do filme em si é das mais interessantes: grupo de colegiais japonesas cometem suicídio coletivo numa estação de metrô. As meninas, todas sorridentes, se dão as mãos e na hora que o metrô passa, todas se jogam na frente. O filme exagera de propósito no sangue, que banha todo o transporte, fazendo com que todos os passageiros fiquem aterrorizados. O evento repercute na mídia e alguns jovens, inspirados no que aconteceu, acabam fazendo o mesmo. Pena que o filme vai ficando com a trama cada vez mais complicada e traz um final que não faz jus ao início instigante. Ainda assim, vale a pena ser conferido, principalmente por quem curte a estranheza das obras pop japonesas. E também pra quem curte gore, claro. Tem uma cena em que uma mulher vai cortando seus próprios dedos e encharcando a casa toda de sangue. O ator que faz o detetive é Ryo Ishibashi, rosto conhecido de filmes como AUDITION, de Takashi Miike, e BROTHER, de Takeshi Kitano. 

Curiosamente, o Japão tem mesmo um histórico de suicídio bastante expressivo. Li num texto sobre o filme que em 2000 33.000 japoneses cometeram suicídio. Os japoneses, inclusive, já tem tradição de suicídio desde os tempos dos samurais, que se matavam por honra. Era preferível morrer a viver desonrado. Mas a situação nos dias de hoje é bastante diferente. Talvez o problema do suicíio hoje tenha mais a ver com o isolamento e com a incapacidade de algumas pessoas de conseguirem se adaptar à sociedade. A cultura pop no filme é vista como superficial e decadente e uma das causas da onda do suicídio. Mas ao mesmo tempo, são as canções pop que trazem letras que oferecem uma solução para o problema.

quinta-feira, março 23, 2006

DUMPLINGS (Gaau Ji)

 

Se na semana passada eu me concentrei no cinema francês, essa semana o foco vai ser cinema oriental. Poucas horas antes de assistir 2046, de Kar-wai, aproveitei meu dia de folga para conferir em divx a versão em longa-metragem de DUMPLINGS (2004), de Fruit Chan. Que beleza de filme, narrado com uma sobriedade bastante interessante para um representante do cinema fantástico. 

Em DUMPLINGS, Fruit Chan procura adotar uma narrativa mais realista, tornando bem mais verossímil a história da mulher que vende pasteizinhos feitos com carne de feto humano que fazem com que as pessoas alcancem a eterna juventude. O tema da juventude que se esvai, creio que seja de interesse de todos, já que o tempo é implacável para todo mundo. Acredito que para as mulheres essa preocupação seja ainda maior. No caso da personagem do filme, ela é uma atriz decadente que sente que seu marido a está trocando por uma moça mais jovem. Inicialmente, os pastéis parecem para ela repulsivos. Pra gente também, já que o som do filme e a aparência meio melada da comida fazem com que nós sintamos um certo nojo. 

O tema parece uma atualização do vampirismo e do canibalismo e guarda alguma semelhança com MORTOS DE FOME, de Antonia Bird, que mostrava pessoas que viviam para sempre ao comer carne humana. Se DUMPLINGS se limitasse apenas a isso, com certeza não seria tão bom. Algumas das melhores cenas dizem respeito ao aborto em si. Fruit Chan fez um filme que além de mostrar a sociedade narcisista dos dias de hoje, ainda critica o rígido controle de natalidade da China. A primeira cena de aborto apresentada no filme é de deixar a gente sem piscar os olhos. 

Suspeito que a versão mais curta de DUMPLINGS seja mesmo o melhor segmento da antologia TRÊS EXTREMOS (2004), que trazia também obras dos cineastas mais conhecidos Takashi Miike e Chan-wook Park. A fotografia de DUMPLINGS é lindona, a cargo do celebrado Christopher Doyle. O filme é uma prova de que a nova geração de cineastas de Hong Kong veio mesmo pra ficar. Fico imaginando o quanto nós estamos perdendo com nossa falta de oportunidade de acompanhar mais filmes vindo de lá.

quarta-feira, março 22, 2006

2046 - SEGREDOS DO AMOR (2046)

  

 Sempre tive um pouco de dificuldade de absorver ou de me encantar com os filmes de Wong Kar-wai. O primeiro filme dele que vi foi justamente AMOR À FLOR DA PELE (2000), um dos mais incensados pela crítica. E pra falar a verdade achei o filme bastante chato, arrastado e repetitivo. Depois de ouvir tanta gente elogiando o homem, resolvi pegar algo dele pra ver em vídeo. Gostei bastante de ANJOS CAÍDOS (1995), talvez o seu filme mais fragmentado e com mais estética de videoclipe. Peguei também FELIZES JUNTOS (1997), que também gostei, mas é o tipo de filme que não me emocionou em nenhum momento. É mais o caso de se valorizar a estética, digo, a fotografia, a direção de arte, essas coisas, do que o drama dos personagens. 

2046 - SEGREDOS DO AMOR (2004) leva as obsessões estilísticas de Kar-wai a graus extremos. E dá-lhe filtros, câmera lenta, fumaça, efeitos estilososos. Isso pode aborrecer aos que não gostam desse aspecto do diretor, mas deve agradar bastante aos seus fãs. Pra mim, o filme foi a melhor experiência que eu tive com o cinema de Kar-wai. Foi o mais próximo que eu estive de me envolver e de me emocionar com um filme dele. Ainda assim, não gostei das partes futuristas do filme. As partes inciais e finais de 2046, com a narração de Tony Leung e aquela historinha que se passa no futuro, são bem chatas. Ao menos dá pra se entreter com o visual, realmente de cair o queixo. 

A melhor coisa do filme é o miolo, que trata da relação de Tony Leung com Gong Li, Zhang Ziyi, Maggie Cheung e Faye Wong. O filme atinge o seu pico quando focaliza no relacionamento do protagonista com a personagem de Zhang Ziyi - belíssima, um colírio para os olhos. Adoro as cenas em que ela aparece nos cantos da tela, naquela excepcional fotografia em scope. Aliás, dá pra chamar de scope a proporção de 2.40:1? Reparei que na sala em que eu assisti ao filme, a tela não dava conta da largura do filme, ficando um pedaço da fotografia de fora. Mas nada que comprometa a apreciação. A fotografia ficou a cargo de Christopher Doyle, fotógrafo excepcional que tem se dedicado a trabalhar bastante no oriente. 

Curiosamente, no mesmo dia, eu havia assistido a DUMPLINGS, de Fruit Chan, que também conta com a fotografia dele. Doyle também aparecerá nos créditos do próximo filme de Shyamalan, A DAMA NA ÁGUA. Ele é o fotógrafo favorito de Kar-wai, tendo trabalhado com ele na maioria de seus filmes. A música também é um dos pontos fortes do filme. 

A trilha sonora ficou a cargo de Peer Raben, o homem que fazia trilhas para Fassbinder. Como 2046 é um filme bem mais melodramático que AMOR À FLOR DA PELE, a música emocinante de Raben veio bem a calhar. Aliás, o fato de 2046 ter mais emoções exacerbadas, mais lágrimas e mais sexo foi um dos motivos de eu ter gostado mais desse filme do que de AMOR À FLOR DA PELE, onde nada se via, tudo se escondia. Afinal, quem quer ver um filme sobre pessoas comprando noodles? (Estou brincando, hein.) 

2046 é o filme que encerra a trilogia iniciada com DAYS OF BEING WILD (1991) e continuada com AMOR À FLOR DA PELE.

terça-feira, março 21, 2006

ANJOS DA NOITE - A EVOLUÇÃO (Underworld: Evolution)

 

Com meia hora de exibição de ANJOS DA NOITE - A EVOLUÇÃO (2006) eu já estava arrependido de não ter comprado ingresso para o melodrama com a Jennifer Lopez que estava passando na outra sala, mesmo sabendo que também não devia ser grande coisa. Pelo menos, o melodrama não iria confundir a minha cabeça com coisas inúteis. Quando o filme vale a pena, até que eu não me incomodo de ficar queimando neurônio, mas não é o caso dessa continuação de Len Wiseman. Aliás, o sobrenome do diretor ("wise man") só faz sentido quando lembramos que ele acabou se casando com a beldade Kate Beckinsale quando a conheceu durante as filmagens de ANJOS DA NOITE - UNDERWORLD (2003). 

A presença de Kate é uma das coisas que justificam a ida ao cinema para ver o filme. Um dos melhores momentos de ANJOS DA NOITE - A EVOLUÇÃO é a cena de sexo dela com o híbrido Scott Speedman. Infelizmente, o diretor fez questão de não mostrar nem os seios nem o traseiro de nossa heroína. Ainda assim, a cena ficou bastante sexy. Como eu já li em algum lugar, melhor do que Kate Beckinsale com roupa preta colante só Kate Beckinsale sem roupa. 

Depois de citar a melhor coisa do filme, dá até preguiça de falar da história modorrenta e enfadonha que continua a luta dos vampiros contra lobisomens iniciada no primeiro filme e que deve agradar mais a fãs de RPG. O principal problema quando se começa a assistir ao filme é ver o quanto eu havia me esquecido da trama original. Nem o flashback que antecede os créditos dá conta de ajudar. É o tipo de filme que se preocupa mais com o visual do que com o conteúdo e cujas complicações na trama só servem para disfarçar os problemas no roteiro. 

Ao menos, dá pra se notar que foi injetado mais dinheiro na produção. Os efeitos especiais estão mais caprichados e o grande lobisomem William, que aparece lá pelo final, chega até a assustar um pouco pelo tamanho e pela selvageria. É uma pena que, apesar de contar com elementos clássicos dos filmes de horror (vampiros e lobisomens), ANJOS DA NOITE prefira optar pelo formato de filme de ação, com muitos tiros e carros sendo destruídos. E é mais lamentável ainda que ele não funcione nem como filme de ação. 

P.S.: Hoje tem coluna nova no Cinema com Rapadura. O assunto está meio atrasado, mas pra quem quiser ler, eu falo sobre as maiores injustiças do Oscar.

segunda-feira, março 20, 2006

FALCÃO - MENINOS DO TRÁFICO


Depois de três anos de espera, finalmente o Fantástico exibiu o documentário FALCÃO - MENINOS DO TRÁFICO (58 min, 2003), de MV Bill e Celso Athayde. Espero que depois dessa exibição não aconteça nada de mal com os diretores do filme, tão preocupados com essas questões sociais que têm transformado o Brasil num país em guerra civil. Em agosto de 2003, esse documentário estava pronto para ser exibido e de uma hora para a outra os seus autores desautorizaram a veiculação por motivos "de foro íntimo". Não sei se isso ocorreu por causa de ameaças dos traficantes ou por desacertos na edição, feita pelo pessoal da Rede Globo. 

Passado todo esse tempo, eis que o Fantástico exibe o documentário, que mostra a triste vida de meninos que trabalham no tráfico de drogas no Rio de Janeiro. O documentário foi exibido em três blocos. Algumas coisas mostradas já foram vistas em um ou outro programa jornalístico, mas o documentário é diferente principalmente por ter sido realizado por pessoas de dentro da favela. O que eu achei mais surpreendente foi a parte que mostra uma brincadeira dos meninos. Eles brincam com o seu próprio cotidiano de violência, como nas brincadeiras de polícia e bandido. Nessa cena, eles fazem uma interpretação de um garoto que é pego por entregar os amigos para a polícia e é jogado num buraco depois de levar vários tiros. 

Coincidentemente, na hora que eles estão brincando uma execução de verdade acontece ali perto. A polícia também é mostrada como contribuinte dessa realidade. A vida dos jovens envolvidos no tráfico é muito curta. Pra se ter uma idéia, dos 16 jovens apresentados no filme, apenas um deles estava vivo no final das filmagens. O "falcão" do título é o garoto que fica com um fuzil e um radiotransmissor vigiando e tomando de conta da favela. Esse menino troca a noite pelo dia. Uma das últimas pessoas mostradas no filme é um rapaz que ficou paralítico depois de levar um tiro e hoje vive resignado em sua cadeira de rodas, tendo abandonado a vida de crime depois de ter passado cinco anos na cadeia. Tocante também o caso do garoto que queria ser palhaço. Sua mãe havia lhe prometido levá-lo para o circo, mas ela já havia morrido. 

Em vez disso, ele estava ali com uma arma na mão, pronto para matar ou morrer. Foi importante esse documentário ter sido veiculado num programa de grande alcance como o Fantástico. Se fosse exibido nos cinemas, pouca gente teria assistido. Segundo noticiado, hoje acontecerá o lançamento do livro "Falcão - Meninos do Tráfico", sobre os bastidores das filmagens. Pra terminar, as últimas palavras de MV Bill no documentário: "Eu não sei exatamente qual o papel desse documentário. Solucionar eu tenho certeza de que não é. Mas é mais um instrumento para ajudar a pensar, repensar as leis dentro do Brasil, para que as pessoas discutam e vejam se é esse mesmo o Brasil que a gente quer. Ou a gente tem um Brasil só ou tem dois Brasis. E parece que estão cuidando mais de um e esquecendo do outro. Só que o outro tá crescendo e se transformando num monstro. Onde nós já perdemos o controle. Tá engolindo todo mundo." 

domingo, março 19, 2006

BETTE DAVIS EM DOIS FILMES

 

Nos anos 60, grandes atrizes do passado que estavam em decadência encontraram no cinema de horror uma bela maneira de entrarem com elegância nessa fase decadente. Bette Davis foi a principal dessas estrelas e o principal culpado disso foi Robert Aldrich, que a convidou para estrelar o clássico O QUE TERÁ ACONTECIDO A BABY JANE? (1962). O filme fez tanto sucesso que a veterana atriz passou a se dedicar a esse gênero meio que marginal, mas que já havia alcançado certo prestígio graças ao sucesso fenomenal de PSICOSE, de Hitchcock. Nos anos 80, Bette já estava, naturalmente, bastante velhinha e debilitada. Em 1983, ela já havia sobrevivido a um câncer nos seios, a uma mastectomia e a um derrame. Sua aparência decrépita pode ser notada no último filme de sua vida, a comédia A MADRASTA (1989), de Larry Cohen. Conta-se que ela abandonou as filmagens depois de ter visto a si mesma nas filmagens. Abaixo, dois filmes da fase decadente de nossa querida Bette Davis.

MISTÉRIO NO BOSQUE / OLHOS NA FLORESTA (The Watcher in the Woods) 

Antes desse filme, Bette já havia trabalhado com John Hough em DE VOLTA À MONTANHA ENFEITIÇADA (1978). MISTÉRIO NO BOSQUE (1980) foi o primeiro filme de terror produzido pela Disney. E como a Disney é uma companhia mais dedicada ao público infantil, é natural que o filme não exagere nos sustos. Apesar disso, John Hough consegue criar uma atmosfera de mistério das mais interessantes. Só os efeitos especiais que ficaram um pouco defasados e chegam a incomodar um pouco. Na trama, família aluga uma casa afastada da cidade e próxima a um bosque. Bette Davis interpreta a proprietária da casa que não recebe com bons olhos os novos visitantes. As duas meninas da família passam a ver coisas e ouvir vozes. A mais velha das meninas procura desvendar o desaparecimento de uma garota ocorrido há trinta anos. MISTÉRIO NO BOSQUE foi o título que o filme recebeu quando exibido nos cinemas brasileiros; OLHOS NA FLORETA é o título da fita da Abril Vídeo. Gravado da FOX. 

A MADRASTA (Wicked Stepmother) 

Essa divertida comédia dirigida por Larry Cohen só conta com a participação de Bette Davis no começo. O roteiro teve de ser reescrito depois da desistência da atriz. Aí é que entra em cena a figura da bruxa jovem, interpretada por Bárbara Carrera. A MADRASTA começa muito bem, mostrando um detetive de polícia à procura de uma bruxa que enfeitiça viúvos para dar um golpe. O filme torna-se problemático com a saída de Bette Davis. Eu, que só fui saber de detalhes dos bastidores depois de ter visto o filme, já suspeitava que alguma coisa estranha havia acontecido. Nos EUA, o filme foi boicotado pela própria MGM, que resolveu lançá-lo apenas no mercado de vídeo. Aqui no Brasil, nem isso. Mas quem costuma ficar de olho na programação da madrugada na tv, pode dar de cara com o filme. Gravado da Globo.

sexta-feira, março 17, 2006

ATIREM NO PIANISTA (Tirez sur le Pianiste)

 

Deu pra notar que essa semana foi dedicada ao cinema francês. Encerro a semana, então, com ATIREM NO PIANISTA (1960), segundo longa-metragem de François Truffaut. E já começo dizendo que o filme não é dos meus favoritos. Não gosto quando Truffaut adentra o cinema de gênero. Ele mesmo chegou a confessar que não é muito apreciador dos filmes de gângster. Desse modo, ATIREM NO PIANISTA acabou se transformando num filme meio esquizofrênico. Em alguns momentos, Truffaut parece fazer uma paródia, mas logo o tom meio cômico é substituído pela melancolia e pelos temas mais caros ao cinema do diretor: o amor, as mulheres, o passado, a música, a família. É como se Truffaut tentasse fugir de seu sentimentalismo e não conseguisse. 

Não deixa de ser um filme interessante. A fotografia em preto e branco e em scope é um dos pontos altos do filme. Mas é a persona de Charles Aznavour que torna o filme especial. No livro "O Prazer dos Olhos - Escritos sobre Cinema", Truffaut diz que se apaixonou por Aznavour depois de ter visto o filme LA TÊTE CONTRE LES MURS (1959), de Georges Franju. O que atraiu Truffaut foi "a fragilidade, a vulnerabilidade e aquela silhueta ao mesmo tempo humilde e graciosa que lembra são Francisco de Assis". O diretor apreciava os homens frágeis e não gostava dos tipos durões. Dito isso, provavelmente Truffaut não gostasse de astros como James Cagney e Edward G. Robinson. Talvez por isso ele tenha realizado um filme de gângster sem cara de filme de gângster. 

O que mais me chamou a atenção em ATIREM NO PIANISTA foi a rapidez da edição, lembrando um pouco JULES E JIM (1962), um de seus filmes seguintes e uma obra bem mais inspirada. Aliás, inspirado é uma palavra que combina com Truffaut. Ele não é um cineasta-gênio como Robert Bresson. Ele é um homem apaixonado pelo cinema, pelas mulheres e pelos livros que quando está inspirado e faz filmes sobre aquilo que ele mais tem intimidade, ele acerta. A edição de ATIREM NO PIANISTA parece conter cenas que se atropelam umas às outras. Como naquele flashback que revela o passado do pianista. Se a gente não prestar atenção, não percebe que é um flashback. Ou só percebe no final. 

ATIREM NO PIANISTA pertence à categoria dos filmes menores de Truffaut, como O ÚLTIMO METRÔ (1980) e DE REPENTE NUM DOMINGO (1983).

quinta-feira, março 16, 2006

A BESTA DEVE MORRER (Que la Bête Meure)

 

Continuando com a fase francesa do blog, falo hoje de um dos filmes mais importantes de Claude Chabrol, outro medalhão do cinema francês e também representante da Nouvelle Vague. Aliás, foi ele quem deu início ao célebre movimento, com o filme NAS GARRAS DO VÍCIO (1958). Chabrol se destaca por seu gosto por tramas sobre crimes e já deve estar de saco cheio de tanto ser comparado com Hitchcock. Mas isso acaba sendo inevitável, dada a semelhança temática. Comparando os dois cineastas, obviamente Chabrol sai perdendo. 

A BESTA DEVE MORRER (1969) é um de seus filmes mais interessantes. O filme começa com um menino sendo atropelado. O sujeito que atropela está do lado de uma mulher. Ele não pára o carro e abandona o corpo do garoto na rua. O pai do menino jura encontrar o assassino. Ele dedica todos os seus dias na busca do homem que matou o seu filho. Seguindo uma pista quente, ele acaba por conhecer uma mulher suspeita de ser a motorista do carro. Ele descobre que ela estava no carro, ma quem dirigia era o cunhado dela. Ele conhece o tal sujeito e, para seu alívio, o homem é absolutamente insuportável. Até o próprio filho lhe confessa que deseja a sua morte. Mas as coisas se complicam bastante até o final inesperado. 

Em A BESTA DEVE MORRER, senti falta de personagens femininas fortes, uma das marcas dos melhores filmes do diretor, como no recente A DAMA DE HONRA (2004) ou em títulos como CIÚME - O INFERNO DO AMOR POSSESSIVO (1994) e UM ASSUNTO DE MULHERES (1988), só pra citar os filmes que vi do cineasta. Apesar desse pequeno porém, o filme é envolvente e instigante.

quarta-feira, março 15, 2006

PICKPOCKET

  

Fazendo um link com ACOSSADO, do Godard, passemos para PICKPOCKET (1959), de Robert Bresson, um dos maiores cineastas de todos os tempos. Godard gostava tanto de Bresson - e desse filme em particular - que deu ao personagem principal de ACOSSADO o nome de Michel como homenagem ao clássico de Bresson. 

PICKPOCKET nos apresenta Michel (Martin La Salle), um batedor de carteiras atormentado pela culpa e pela solidão que se recusa a visitar a mãe doente e a largar o seu vício perigoso. Michel aperfeiçoa a sua arte quando conhece um ladrão profissional, que lhe ensina muitas técnicas. Há também uma relação amorosa de Michel com Jeanne (Marika Green, tia de nossa querida Eva Green), mas ela nunca é explicitada. Aliás, essa relação é até escondida do expectador. Até porque as expressões nos rostos dos modelos - e não atores, já que Bresson não queria ninguém atuando -, não nos dão muitas pistas do que eles sentem. Bresson também tem a característica de esconder coisas importantes da trama. Coisas importantes acontecem antes de começar e depois de encerrado o filme, que tem aquela bela fala de Michel: "Oh, Jeanne, que estranho caminho eu tive que trilhar para te encontrar". 

Bresson prefere nos mostrar as cenas de Michel batendo carteiras, ainda que em determinados momentos ele interrompa a ação com fade outs. Destaque para a cena do trem, um primor de edição, e para a primeira cena, na corrida de cavalos, com Michel tentando retirar dinheiro da bolsa de uma mulher, correndo grande risco de ser pego em flagrante. 

Li em algum lugar que PICKPOCKET foi diretamente influenciado por ANJO DO MAL, de Samuel Fuller, e que foi uma influência forte para GIGOLÔ AMERICANO, de Paul Schrader, diretor e roteirista que apreciava contar histórias de tipos marginais - lembrando que foi Schrader quem fez o roteiro de TAXI DRIVER. Nos dias de hoje, qual diretor seria o herdeiro do cinema de Bresson? Jim Jarmusch talvez, por seu estilo minimalista? 

PICKPOCKET foi só o terceiro filme de Bresson que eu tive a chance de ver. Por enquanto, meu favorito continua sendo O PROCESSO DE JOANA D'ARC (1962). Estou com UM CONDENADO À MORTE ESCAPOU (1956) em casa pra conferir também e, com sorte, encontrarei nas locadoras DIÁRIO DE UM PADRE (1951), considerado o primeiro filme autenticamente bressoniano.

terça-feira, março 14, 2006

ACOSSADO (À Bout de Souffle)



Estava pensando em "pular" ACOSSADO (1960) na minha peregrinação pela obra de Jean-Luc Godard, mas esse filme é muito importante pra que eu não faça uma revisão. Dizem que os filmes de Godard tendem a crescer na revisão (assim falou Sergio Alpendre num comentário), e revendo ACOSSADO eu só tenho a concordar com essa afirmação. Além do mais, como minha memória não é das melhores, em certos momentos, parecia que eu estava vendo o filme pela primeira vez. O único Godard que eu não pretendo rever tão cedo é ALPHAVILLE (1965), que eu acho incrivelmente chato.

ACOSSADO é para muitos a obra-prima maior de Godard. O filme tem uma leveza, uma vontade de viver impressionante. Também gosto muito da refilmagem americana de Jim McBride, A FORÇA DO AMOR (1983), que inverteu um pouco a relação dos progonistas. No lugar de um francês com uma americana, o filme de McBride mostrava um americano (Richard Gere) e uma linda e gostosa francesinha (Valérie Kaprisky). O filme de McBride também tem a vantagem de ser mais convencional e se assumir como uma tragédia, ao contrário de Godard, que parece ter sempre um certo distanciamento; nunca nos esquecemos de que aquilo ali é cinema. Outra coisa: como Richard Gere não era tão canalha como Jean-Paul Belmondo, acabamos simpatizando mais com ele, até porque não é todo dia que aparece um personagem fã do Surfista Prateado.

Um dos grandes trunfos de ACOSSADO é a presença maravilhosa de Jean Seberg, uma americana descoberta por Otto Preminger - ela havia feito JOANA D'ARC (1957) e BOM DIA, TRISTEZA (1958) -, mas que acabou atuando mais no cinema europeu, após o sucesso de ACOSSADO. Suas feições delicadas, seu cabelo curto deixando de fora sua linda nuca, sua graça, tudo contribui para que ela deixe todos os espectadores apaixonados. Dá até raiva quando ela está no quarto com Belmondo e ela fica tentando falar de literatura (Dylan Thomas e William Faukner) e de pintura (Renoir e Picasso) e o ignorante do Belmondo nem liga. Se bem que diante dela, as artes mais nobres parecem mesmo pequenas. Seberg morreu jovem, aos 40 anos, de overdose de barbitúricos.

Em ACOSSADO, Godard já se mostrava bastante interessado na linguagem escrita e na filosofia, como na cena em que Seberg entrevista Jean-Pierre Melville. Adoro quando ela pergunta pra ele sobre a sua maior ambição e ele diz: "tornar-me imortal e, então, morrer". ACOSSADO é um dos maiores marcos do cinema. Ao lado de OS INCOMPREENDIDOS, de Truffaut, o filme de Godard representa um momento culminante na história da sétima arte. A Nouvelle Vague acabou por influenciar o cinema de todo o mundo nos anos 60 e fez com que o cinema tradicional americano entrasse em decadência e precisasse de uma reformulação, que só aconteceria no final da década de 60. O que mais se percebe em ACOSSADO, por exemplo, é a montagem sincopada, a descontinuidade narrativa, a estruturação fragmentada, a câmera na mão, o jazz, o homem contemporâneo e suas idéias.

O filme foi realizado a partir de uma história de Truffaut. Parece que os dois eram grandes amigos no começo, mas foram se distanciando cada vez mais. No campo estético, ainda mais, já que Godard abandonaria o cinema de ficção nos anos 70 e passaria a fazer herméticos ensaios cinematográficos. Li que numa pesquisa da revista MovieMaker, Godard foi considerado o quarto cineasta mais influente de todos os tempos, atrás apenas de Orson Welles, D.W. Griffith e Alfred Hitchcock. Não é brincadeira não.

Algumas curiosidades sobre o filme: dizem que, para passar uma maior sensação de espontaneidade, Godard só passava as falas para os atores à medida que as cenas iam sendo filmadas. Outra curiosidade interessante é que, como não tinha condições de comprar uma dolly, Godard colocou a câmera numa cadeira de rodas em várias cenas do filme. Deve haver muitas outras histórias fascinantes sobre a realização do filme.

Na próxima semana, se tudo der certo, voltarei a falar de Godard, depois que ver pela primeira vez UMA MULHER É UMA MULHER (1961).

segunda-feira, março 13, 2006

FIREWALL - SEGURANÇA EM RISCO (Firewall)

 

Interessante como a instituição familia é vista com mais importância nos filmes americanos do que em qualquer filme de outra nacionalidade. Os Estados Unidos valorizam bastante a família, já que ela é a base de sua sociedade. Como já dizia o guru indiano Osho, o primeiro passo para acabar com as barreiras entre os países seria através do esfacelamento das famílias, como as conhecemos hoje. Mas isso não é fácil, ainda mais num país nascido sob o signo de câncer. 

Não faz nem duas semanas que eu assisti a um filme que também mostrava uma família em risco: FORA DE RUMO, de Mikael Håfström, que eu particularmente achei bem melhor que esse FIREWALL - SEGURANÇA EM RISCO (2006), dirigido por Richard Locraine, cineasta mais conhecido pelos títulos RICARDO III (1995) e WIMBLEDOM - O JOGO DO AMOR (2004), que também trazia Paul Bettany, o sortudo marido da Jennifer Connely. Até mesmo a presença de um filho com problemas de saúde, o filme de Locraine apresenta, entre outros clichês manjados. 

Harrison Ford já não segura mais um filme só aparecendo nele - seu último trabalho havia sido o pouco visto DIVISÃO DE HOMICÍDIOS (2003) - e o peso da idade fica cada vez mais evidente. Engraçado como o tempo passa rápido. Parece que foi ontem que eu assisti a INDIANA JONES E A ÚLTIMA CRUZADA (1989) no cinema! O que 17 anos não fazem com a gente. Espero que isso não prejudique a tão esperada quarta aventura de Spielberg. 

Em FIREWALL, Ford é funcionário de um banco que é ameaçado por um sujeito (Bettany) que pretende usá-lo para fazer uma transferência milionária para uma conta no exterior. Para isso, o vilão seqüestra a família do bancário para assegurar o seu intento. Lá pelo final, o filme fica parecendo uma versão de segunda categoria da série 24 HORAS, tendo inclusive a presença de Mary Lynn Rajskub, a especialista em informática Chloe O'Brian da série. 

Por falar nisso, hoje é dia de estréia da quinta temporada da série na Fox e eu não quero perder. Qualquer episódio dessa série bate esse FIREWALL.

domingo, março 12, 2006

CRY WOLF - O JOGO DA MENTIRA (Cry_Wolf)

 

Fim de semana bem sem graça esse que está acabando. A começar pelas estréias nos cinemas. Dos dois filmes que escolhi pra ver dentre as sete estréias, na dúvida entre o ruim e o fraco pra comentar hoje, vou comentar logo o ruim, assim eu aproveito o mau humor para xingar o filme. 

CRY WOLF - O JOGO DA MENTIRA (2005) é desses filmes que não agradam nem mesmo aos fãs mais hardcore do gênero (horror). Até porque o horror nesse filme é zero. E elementos caros aos fãs, como cenas de violência gráfica e de nudez também são completamente ausentes do filme. É a tal coisa: filme de terror ruim que não tem nem sangue nem mulher pelada merece mesmo ser desprezado por todos. Claro que esses não são elementos essenciais para um bom filme. O principal é que ele seja bem sucedido no quesito suspense, que consiga fazer o sangue da gente gelar, como aquele outro filme com título parecido, WOLF CREEK. 

CRY WOLF mostra um grupo de jovens que aproveitam o assassinato de uma garota para apavorar uma escola criando a lenda urbana de um serial killer , através de e-mails enviados pra todos da escola - os famosos spams. A brincadeira começa a ficar perigosa quando um dos rapazes do grupo desaparece e o protagonista passa a receber mensagens de um sujeito que diz ser o assassino. 

Do elenco, o único rosto conhecido é o de Jon Bon Jovi, que deve andar com um péssimo assessor para escolher filmes. Ou então, é amigo do diretor ou de alguém da produção. CRY WOLF, além de deixar a gente com saudade da trilogia PÂNICO, ainda nos deixa com a triste impressão que a saída para os americanos é mesmo o das refilmagens.

sexta-feira, março 10, 2006

CALVAIRE

  

O cinema de gênero na França está em alta. Ao menos, essa é a impressão que se tem quando se vê obras como HAUTE TENSION, de Alexandre Aja, IRREVERSÍVEL, de Gaspar Noé, PACTO DOS LOBOS, de Christophe Gans, ou SINAIS DO MAL, de Eric Valette. A maioria desses filmes são difíceis de serem vistos nos cinemas, mas com sorte alguns são lançados de forma discreta nas locadoras por selos pequenos. CALVAIRE (2004), do belga Fabrice du Welz, é uma produção Bélgica-França-Luxemburgo que me interessou muito depois da dica do amigo Fábio Ribeiro. 

CALVAIRE guarda semelhanças com os filmes de horror rurais da década de 70, como O MASSACRE DA SERRA ELÉTRICA e QUADRILHA DE SÁDICOS, e seus derivados, como o australiano WOLF CREEK - VIAGEM AO INFERNO. A primeira diferença a se notar é que CALVAIRE é um filme que demora mais a mostrar a sua verdadeira face. No começo, o filme parece um drama convencional. Só depois de uma hora é que o horror e a tragédia se instalam na vida do protagonista (Laurence Lucas). Ele é um cantor decadente que se apresenta para uma platéia de senhoras coroas ou idosas que enlouquecem por ele. 

Como já é comum nesse tipo de filme, tudo desmorona a partir do momento em que seu trêiler quebra num lugar desolado. Ele é auxiliado por um doido local que lhe apresenta a um velho solitário que promete consertar o seu carro e lhe oferece um quarto pra dormir em seu albergue vazio. Desde PSICOSE, de Hitchcock, que as pessoas já deveriam ter aprendido que não é uma boa idéia se hospedar em hotéis ou albergues vazios em locais desolados. Esse povo não aprende mesmo. Não acho uma boa idéia contar o que acontece depois disso, mas já adianto que não é nada agradável. 

Talvez por ter esperado algo mais chocante para o final, acabei me decepcionando um pouco. Mesmo assim, trata-se de uma obra que merece ser descoberta. A fotografia em scope é lindona com seu cinza acentuado e tenho certeza que ver o filme na tela grande seria uma experiência bem mais interessante. E, pensando bem, o que o protagonista passa não é mole não. Visto em divx.

quinta-feira, março 09, 2006

ESTA MULHER É PROIBIDA (This Property Is Condemned)

 

O motivo de eu ter alugado ESTA MULHER É PROIBIDA (1966) foi para ver a beleza e o encanto de Natalie Wood, atriz que eu considero uma das mais belas do cinema. O filme é o segundo longa-metragem da carreira de Sydney Pollack e com certeza um de seus melhores trabalhos. O primeiro havia sido UMA VIDA EM SUSPENSE (1965). Interessante que na época que eu escrevi sobre A INTÉRPRETE (2005) vários colegas comentaram apreciar alguns filmes de Pollack. Ainda suspeito que o seu melhor filme seja mesmo MAIS FORTE QUE A VINGANÇA (1972). ESTA MULHER É PROIBIDA representa a primeira parceria de Pollack com Robert Redford que trabalhariam juntos em mais seis filmes. 

Na trama, Natalie Wood é uma jovem desejada por todos os homens de uma pequena cidade. Um dia aparece um forasteiro (Robert Redford) por quem ela se apaixona. O forasteiro vai mudar a rotina de todos nessa cidade. Charles Bronson também está no elenco, como coadjuvante. Outros dois nomes de peso nos créditos do filme: o lendário diretor de fotografia James Wong Howe e Francis Ford Coppola assinando o roteiro. O filme é baseado numa peça de Tennessee Williams, dramaturgo com uma característica muito forte. A semelhança desse com filmes como UMA RUA CHAMADA DESEJO, de Elia Kazan, DE REPENTE, NO ÚLTIMO VERÃO, de Joseph L. Mankiewicz, e GATA EM TETO DE ZINCO QUENTE, de Richard Brooks, é muito grande. Todos apresentam personagens falastrões e com um certo gosto por bebidas alcoólicas. 

 A cena em que Natalie toma o amante de sua mãe é uma das melhores do filme, assim como aquela em que ela parte em busca de Redford. Pena que o final seja tão brusco, dando a impressão que as filmagens foram interrompidas antes do tempo. O que se conta é que durante as filmagens, Natalie tentou cometer suicídio. Isso pode ter afetado de alguma maneira a finalização do filme. Natalie era uma dessas mulheres lindas e malditas, com uma história trágica de vida e que termina de maneira incomum. Outra curiosidade de bastidores é que na cena em que ela ficava bêbada no bar, ela realmente havia bebido muito. 

O DVD da Paramount vem pelado de extras, mas felizmente a fotografia de James Wong Howe está intacta, em widescreen.

quarta-feira, março 08, 2006

NO LIMITE DA REALIDADE (Twilight Zone: The Movie)

 

De tanto a turma falar de NO LIMITE DA REALIDADE (1983), lá fui eu desencavar a minha fita gravada da TNT há mais de dois anos. Foi também uma forma de entrar novamente em contato com o cinema de John Landis. Como todo filme de segmentos, é um trabalho irregular, mas que vai melhorando cada vez mais à medida que se aproxima do final. Principalmente nos terceiro e quarto segmentos, dirigidos por Joe Dante e George Miller. O episódio de Miller, aliás, pode-se dizer que seja uma obra-prima, mostrando John Lithgow tendo um ataque de nervos dentro de um avião. 

Infelizmente, mesmo com toda a beleza dos episódios de Dante e Miller, NO LIMITE DA REALIDADE ficou mais famoso por causa do terrível acidente ocorrido durante as gravações do segmento de John Landis, onde Vic Morrow (justamente o protagonista!) morreu num acidente com um helicóptero, juntamente com mais duas crianças. Ao que parece, a hélice do avião cortou fora a cabeça de Morrow. Isso prejudicou bastante a carreira do diretor, que vinha de um grande sucesso, UM LOBISOMEM AMERICANO EM LONDRES (1981). Landis teve que testemunhar várias vezes no tribunal, sendo acusado de negligência. É um caso bastante delicado que já deu muito pano pra manga. Inclusive, é possível encontrar na internet o vídeo com a gravação do acidente. Deve ser bem triste e chocante de se ver. Parece que Steven Spielberg, produtor da série ao lado de Landis, nem chegou a comparecer numa dessas sessões de tribunal. Ele escapou ileso disso tudo. 

Esquecendo um pouco esse triste incidente - se é que isso é possível -, dá pra se falar da importância dessa bela antologia, que procurava homenagear a clássica série ALÉM DA IMAGINAÇÃO (1959/65), criada por Rod Serling. A série teve mais duas encarnações, uma em 1985 (que eu cheguei a acompanhar na Globo na adolescência) e outra mais recentemente, em 2002/2003. Dos quatro segmentos do longa, apenas o de John Landis é uma história original. Os outros três foram baseados em episódios da série clássica. 

O filme começa com um prólogo sensacional, dirigido por Landis, com Dan Aykroyd e Albert Brooks conversando e cantando uma canção do Creedence Clearwater Revival. Até que o som do carro morre e eles passam a fazer algumas brincadeiras durante a viagem. 

O primeiro segmento, de Landis, mostra Vic Morrow pagando o preço por ser racista. Depois de ter xingado judeus, negros e orientais num bar, ele se vê no lugar dessas pessoas em tempos e lugares diferentes. O segmento não é dos melhores, mas até hoje não sei como Landis conseguiu fechar a história depois da morte do ator principal. 

O segmento dirigido por Spielberg é o mais fraco dos quatro. É também um dos mais fracos de toda a carreira do diretor. Ainda assim, não deixa de ser interessante e bastante representativo do lado "Peter Pan" do cineasta. Ele mostra um velhinho entrando num asilo para idosos e mostrando o quanto se pode ser jovem, mesmo estando num corpo de velho. 

O bicho começa a pegar a partir do segmento de Joe Dante, quando uma mulher atropela levemente um garoto e lhe oferece dinheiro para pagar a sua bicicleta batida. O menino pede que, em troca, ela lhe dê carona até sua casa. Chegando lá, as coisas começam a ficar muito estranhas. 

Fechando com chave de ouro, temos o já citado segmento de George Miller. É desses de deixar a gente entusiasmado mesmo. Não deixa de ser curioso o fato de o melhor dos episódios partir das mãos do diretor menos criativo da turma. Parece que a Warner está preparando uma edição especial em DVD da série. Tomara que saia com um material extra bem generoso, pois o filme merece. 

P.S.: Está no ar a nova coluna no CCR. O tema dessa vez é "manias de cinéfilo".

segunda-feira, março 06, 2006

OSCAR 2006

 

Lembram daquela cena de CORRA QUE A POLÍCIA VEM AÍ 33 1/3, quando o detetive Frank Debrin está na cerimônia do Oscar com o envelope de melhor filme na mão e grita "é a bomba!"? Pois é. Aconteceu de verdade. Só que quem estava com o envelope dessa vez era Jack Nicholson, que falou com cara de espanto o nome do vencedor. Para desgosto de milhões de pessoas, O SEGREDO DE BROKEBACK MOUNTAIN perdeu justamente para o pior dos indicados e mostrou que não foi dessa vez que a academia ultrapassou a barreira do preconceito contra os homossexuais. 

A cerimônia foi um pouco fria, mas não foi das piores. A abertura foi bastante divertida, com uma animação mostrando vários ícones do cinema. Depois, teve uma brincadeira sobre a busca de apresentadores para a cerimônia, mostrando Billy Crystal, Chris Rock, Steve Martin, David Letterman, Whoopi Goldberg e Mel Gibson em situações engraçadas. 

O mestre de cerimônias desse ano, Jon Stewart, é até legal. Não o conhecia. Ele é apresentador do programa humorístico The Daily Show, do canal Comedy Channel. Eu preferiria bem mais a acidez de um Chris Rock, ou ver o Billy Crystal brincando com o Jack Nicholson, aproveitando que ele estava sentado na primeira fileira. Também gostaria de ver Jerry Seinfeld apresentando o prêmio um dia. Agora, o Stewart fez uma piada até engraçada sobre JOHNNY E JUNE ser um remake de RAY. Só que para os brancos. O Joaquin Phoenix que não gostou muito da piada. Stewart fez também aquela piada sobre os filmes noir, que eles seriam melhores se fossem a cores. 

Dos momentos mais bonitos da festa, destaco a apresentação em violino de Itzhak Perlman, valorizando os momentos mais belos das trilhas sonoras indicadas. Adorei quando ele tocou os temas de ORGULHO E PRECONCEITO e de O SEGREDO DE BROKEBACK MOUNTAIN. Esse último foi que ganhou o prêmio. 

Esse foi o Oscar que mais teve apresentações de trechos de filmes antigos. É algo que valoriza a indústria e o cinema americano, além de ser emocionante de ver. Esse ano, fizeram apresentações de filmes de biografias, com contextos sociais, filmes épicos, filmes noir e uma brincadeira com os westerns de conteúdo homo implícito. 

A homenagem a Robert Altman estava normal até ele mencionar o fato de que recebera, alguns anos atrás, o coração de uma jovem num transplante. Como o coração era de uma mulher jovem, ele falou que aquele Oscar honorário com sabor de "tu vai morrer logo" não vai ter bem essa função. Também achei bonito o Philip Seymour Hoffman homenageando a mãe, que criou a ele e mais três irmãos sozinha. A mãe dele estava lá na festa e é bem jovem. 

Entre as mais belas da noite, destaco Keira Knightley, Charlize Theron e Salma Hayek

Relação completa dos vencedores: 

Melhor Filme: CRASH - NO LIMITE
Melhor Direção: Ang Lee, por O SEGREDO DE BROKEBACK MOUNTAIN
Melhor Ator: Philip Seymour Hoffman, por CAPOTE
Melhor Atriz: Reese Whiterspoon, por JOHNNY E JUNE
Melhor Ator Coadjuvante: George Clooney, por SYRIANA - A INDÚSTRIA DO PETRÓLEO
Melhor Atriz Coadjuvante: Rachel Weisz, por O JARDINEIRO FIEL
Melhor Roteiro Original: CRASH - NO LIMITE
Melhor Roteiro Adaptado: O SEGREDO DE BROKEBACK MOUTAIN
Melhor Filme de Animação: WALLACE E GROMIT: A BATALHA DOS VEGETAIS
Melhor Montagem: CRASH - NO LIMITE
Melhor Fotografia: MEMÓRIAS DE UMA GUEIXA
Melhor Direção de Arte: MEMÓRIAS DE UMA GUEIXA
Melhor Figurino: MEMÓRIAS DE UMA GUEIXA
Melhor Maquiagem: AS CRÔNICAS DE NÁRNIA: O LEÃO, A FEITICEIRA E O GUARDA-ROUPAS
Melhores Efeitos Visuais: KING KONG
Melhor Trilha Sonora Original: O SEGREDO DE BROKEBACK MOUTAIN
Melhor Canção Original: "It's hard Out There for a Pimp", de RITMO DE UM SONHO
Melhor Edição de Som: KING KONG
Melhor Mixagem de Som: KING KONG
Melhor Filme Estrangeiro: TSOTSI (África do Sul)
Melhor Documentário: A MARCHA DOS PINGÜINS
Melhor Documentário de Curta-Metragem: A NOTE OF TRIUMPH: THE GOLDEN AGE OF NORMAN CORWIN
Melhor Curta-Metragem: SIX SHOOTER
Melhor Curta de Animação: THE MOON AND THE SON: AN IMAGINED CONVERSATION

domingo, março 05, 2006

PALAVRAS DE AMOR (Bee Season)



Fim de semana bastante atípico esse que está passando. É como se todo mundo estivesse de ressaca por causa do carnaval. Não tem nada funcionando de verdade na cidade. Nem tivemos sequer uma estréia nos cinemas. No jornal, constava que O TERCEIRO OLHO estaria passando no Shopping Benfica e lá fui eu ver o filme. Quando cheguei lá, o rapaz da bilheteria falou que houve um problema com a fita e tiveram de cancelar a exibição. Como eu disse: nada funciona aqui nesse fim de semana nublado. E hoje é dia de Oscar, mas pretendo falar do prêmio só amanhã mesmo. Hoje vou tentar tirar um pouco o atraso dos filmes acumulados, falando de PALAVRAS DE AMOR (2005), de Scott McGehee e David Siegel, diretores do pouco visto, mas bastante interessante, ATÉ O FIM (2001).

Pois bem. Em poucas palavras, eu diria que PALAVRAS DE AMOR é um filme sobre a busca pelo sentido da vida, pela religião. Sendo que o termo "religião" teria o seu sentido original, de religar, de buscar novamente o vínculo com Deus ou com a força maior. O elenco é bem interessante. Só a presença de Juliette Binoche já justificaria a ida ao cinema. Essa mulher faz valer qualquer filme. Não apenas por ser bonita, mas por seu desempenho brilhante nas telas. Pena que o seu personagem é um dos mais ingratos do filme. Mas ainda assim, ela "chuta traseiros".

No começo, a família formada por Richard Gere, Juliette, Flora Cross e Max Minghella parece ser o modelo de família ideal, dessas que eu teria vontade de formar um dia, se tivesse dinheiro e uma formação educacional melhor. Aos poucos é que vemos que essa família também tem os seus problemas. Richard Gere é um rigoroso professor judeu, a pequena Flora é uma garota campeã em concursos de soletrar e que parece ter uma espécie de dom espiritual pra isso, Max envolve-se com a religião budista escondido do pai e Juliette esconde um segredo.

O filme tem a vantagem de apresentar coisas bastante diferentes do que a gente está acostumado a ver. Não sabia que existiam concursos de soletrar palavras nos EUA, nem que existia uma relação que a cabala guarda com a busca de Deus através das palavras. O final deixa um pouco a desejar, já que o começo é tão instigante, mas não deixa de ser um bom filme.

sábado, março 04, 2006

LEO McCAREY EM DOIS FILMES



Meu primeiro contato com o cinema de Leo McCarey veio da época em que o filme SINTONIA DE AMOR tornou famoso o clássico melodrama TARDE DEMAIS PARA ESQUECER (1957). Lá fui eu alugar a fita para poder conhecê-lo e para poder derramar algumas lágrimas com a triste história. Depois dessa época, nada de ouvir falar de McCarey. Minha ignorância diminuiu com a leitura do essencial "Afinal, Quem Faz os Filmes", de Peter Bogdanovich. A entrevista de McCarey foi dada em circunstâncias não muito felizes, já que ele estava muito doente, no final de 1968. Ele morreria poucos meses depois, em julho de 1969. A entrevista foi dada graças ao esforço de ambos, entrevistador e entrevistado. McCarey, mesmo sem poder falar direito, deu uma entrevista bem legal, contando detalhes de sua experiência na direção, desde os primeiros curtas para a dupla O Gordo e o Magro, antes mesmo do cinema se tornar falado, passando pelos irmãos Marx, pela influência de Charles Chaplin em seu estilo, entre outras coisas que eu ainda vou ver, já que pretendo ler a entrevista à medida que for vendo os (poucos) filmes dele disponíveis em video. Por enquanto, vamos de UMA DAMA DO OUTRO MUNDO (1934), lançado em DVD pela Continental, e o maravilhoso CUPIDO É MOLEQUE TEIMOSO (1937), pela Sony.

UMA DAMA DO OUTRO MUNDO (Belle of the Nineties)


Primeira vez que vejo um filme estrelado pela mitológica Mae West. A mulher foi considerada uma das mais sexy do cinema do início do século, mas pra ser sincero eu não curti muito ela não. É verdade que ela aparenta ter muita segurança de si - ao menos sua personagem é assim -, mas ela, além de não ter um rosto bonito, tem jeito de mulher malandra e vulgar, o que não me atrai nenhum pouco. Mas independente de eu ter ou não gostado dela, UMA DAMA DO OUTRO MUNDO é um bom filme sobre o poder de uma mulher sobre os homens. A história se passa no final do século XIX, quando Mae apresenta espetáculos musicais em casas noturnas e é assediada por vários homens. Engraçado que o fato de eu não ter gostado muito da Mae contribuiu para que eu me divertisse na cena em que ela é assaltada. Quando perguntado sobre o filme, McCarey lembrou que o que mais lhe estimulou foi ter trabalhado com Duke Ellington. Sobre Mae, Mccarey falou: "Quando ela se irritava, ficava cantarolando como uma cascavel antes de dar o bote." Pelo visto, não fui o único a não ir com a cara da atriz.

CUPIDO É MOLEQUE TEIMOSO (The Awful Truth)


Este foi o filme que trouxe Cary Grant para o universo das comédias. Só por isso, temos de ser eternamente gratos a McCarey. Se não fosse pelo diretor, Grant talvez não teria trabalhado com mestres como Howard Hawks, com quem faria nos anos seguintes as deliciosas LEVADA DA BRECA e JEJUM DE AMOR, e com Alfred Hitchcock, quando dosaria suas personas séria e cômica. A moça que faz par romântico com Grant em CUPIDO É MOLEQUE TEIMOSO é Irene Dunne. Ela me pareceu uma Greta Garbo mais simpática, ainda que não seja tão bela. Mesmo assim, ela é encantadora. O filme nos deixa o tempo inteiro torcendo pela reconciliação do casal. Enquanto eles não chegam a um acordo, diversão é o que não falta. Há momentos de dar boas gargalhadas, como naquela cena em que os dois pegam carona com dois policiais. Impressionante como o filme antecipa o tipo de relação apresentado em JEJUM DE AMOR. O final é belo e poético, além de ter uma carga erótica bastante interessante para um filme americano da época. CUPIDO É MOLEQUE TEIMOSO é considerado um dos melhores trabalhos de McCarey e lhe conferiu o Oscar de melhor direção no mesmo ano em que o filme favorito do diretor, CRUZ DOS ANOS (1937), também poderia ter sido indicado. É possível que eu ainda comente por aqui outros filmes de McCarey - é essa a minha intenção. Outros títulos dele disponíveis em vídeo (DVD ou VHS): O DIABO A QUATRO (1933), DUAS VIDAS (1939), OS SINOS DE SANTA MARIA (1945), A FELICIDADE BATE À SUA PORTA (1948), além do já citado TARDE DEMAIS PARA ESQUECER. (Se houver mais algum McCarey lançado em vídeo no Brasil não listado por mim, por favor, me avisem.)

sexta-feira, março 03, 2006

O MENINO DOS CABELOS VERDES (The Boy with Green Hair)



O MENINO DOS CABELOS VERDES (1948) é mais um bem vindo lançamento da distribuidora Aurora, que está dando de dez nas concorrentes especializadas em clássicos. A quantidade de ótimos filmes que esse selo vem trazendo é de dar gosto. Melhor que isso, só se os DVDs fossem mais baratos para venda direta. Como os preços são tão salgados quanto os DVDs das majors, resta torcer para que as locadoras comprem os títulos. Eu, pelo menos, ando louco pra encontrar nas prateleiras daqui os títulos ALMAS PERVERSAS, de Fritz Lang, CURVA DO DESTINO, de Edgar G. Ulmer, FOI DEUS QUEM MANDOU, do Larry Cohen, O ASSASSINO DA FURADEIRA, de Abel Ferrara, e PAIXÕES QUE ALUCINAM, de Samuel Fuller.

Quanto ao filme de Joseph Losey, confesso que me decepcionei um pouco. Não que o filme não seja bom. O negócio é que minha primeira e única experiência com o cinema do diretor havia sido com o excepcional O ASSASSINATO DE TROTSKY (1972), que saiu em DVD no Brasil pela ClassicLine. Acho que o que me incomodou um pouco em O MENINO DOS CABELOS VERDES foi o sabor de "sessão da tarde" que ele tem. O que para muitos pode trazer boas recordações, pra mim nem tanto. Sempre achei as tardes enfadonhas. Quando criança, eu não via muita graça em filmes que não fossem do Jerry Lewis, dos Trapalhões ou do Simbad.

Na trama, um menino com a cabeça raspada é encontrado vagando e levado para uma delegacia de polícia. Ele conta a um médico a incrível história de quando ele acordou e seus cabelos estavam verdes. O jogo publicitário do filme na época era: "não conte pra ninguém porque os cabelos do menino ficaram verdes." O garotinho do filme é Dean Stockwell, que já era um astro mirim antes desse filme.

O MENINO DOS CABELOS VERDES foi a estréia de Losey em longa-metragem. A carreira do diretor é basicamente dividida em dois momentos: antes e depois do exílio. Ele foi uma das vítimas do macarthismo que assolou o cinema americano dos anos 50. Seu primeiro filme produzido fora dos EUA foi O HOMEM QUE O MUNDO ESQUECEU (1952), título que até poderia ser aplicado ao diretor se sua carreira na Europa não fosse muito bem sucedida.

quinta-feira, março 02, 2006

TRÊS COMÉDIAS

 

Ontem estava assistindo alguns episódios de SEINFELD - comprei a caixa da 4ª temporada - e vendo o quanto o cinema não dispõe atualmente de nada semelhante, capaz de nos fazer gargalhar com prazer. Não teve nenhum filme que me fizesse rir quanto essa série. No ano passado, o destaque foi mesmo O VIRGEM DE 40 ANOS, que é ótimo. Mas esse é um caso à parte. E o pior é que fora de Hollywood as coisas também não são nada animadoras. Abaixo, um exemplo de três comédias fracas ou medianas. Cada uma a seu modo.

ALEX & EMMA


O que aconteceu com aquele Rob Reiner que dirigiu o maravilhoso HARRY E SALLY - FEITOS UM PARA O OUTRO (1989)? Agora ele tem dirigido coisas medíocres como esse ALEX & EMMA (2003), que nem a participação da lindíssima Kate Hudson ajuda. O filme é chatíssimo. E quando Luke Wilson começa a contar a tal história do livro dele aí é que o filme fica ainda mais chato. ALEX & EMMA é uma armadilha para aquelas pessoas que só alugam - ou só vão ao cinema - pra ver comédia romântica. Será que alguma pessoa no mundo gostou desse filme? O DVD vem com aquelas mini-entrevistas com o elenco falando o óbvio: personagens, enredo etc.

LOUCOS DE AMOR (Mozart and the Whale)


Este é um típico filme com cara de cinema independente: adepto do quanto mais esquisito melhor. Mas até que LOUCOS DE AMOR (2005) é um filme simpático, quando visto sem maiores expectativas. Trata-se de uma história de amor entre autistas. Tem alguns momentos bem interessantes e o casal Josh Hartnet e Radha Mitchell é muito bom. O problema é que o filme não chega a emocionar de fato. Mais indicado aos fãs de Josh ou Radha. Eu sei que existem.

A PANTERA COR-DE-ROSA (The Pink Panther)


Apelação total isso que os executivos de Hollywood estão fazendo. É remake atrás de remake. Ao menos no que se refere a filmes de terror, o negócio até que está funcionando bem. Mas repetir a comédia clássica de Peter Sellers não dá. Por mais que Steve Martin seja um ótimo comediante. Os tempos são outros; este tipo de humor não funciona mais. Ao menos com os adultos. Vendo o potencial do filme para o público infantil, aqui no Brasil, A PANTERA COR-DE-ROSA (2006) está sendo exibido em cópias dubladas e legendadas. Não sei se as crianças estão gostando. O problema de ver dublado é que tem uma cena em que Steve Martin tenta aprender o sotaque americano. Uma das melhores do filme.

quarta-feira, março 01, 2006

FORA DE RUMO (Derailed)



Os olheiros de Hollywood continuam trazendo novos diretores estrangeiros para trabalhar nos EUA. Com isso, vamos descobrindo talentos de várias partes do mundo. Alguns deles - é verdade - são engolidos pelo sistema hollywoodiano e perdem suas identidades. Os mais fortes sobrevivem. Mikael Håfström é a bola da vez. O diretor sueco é mais conhecido pelo título EVIL - RAÍZES DO MAL (2003), lançado no Brasil em DVD pela Videofilmes e indicado ao Oscar de melhor filme de língua estrangeira. É um filme que já está na minha lista de próximas locações. Isso porque eu gostei muito de FORA DE RUMO (2005), sua estréia em Hollywood. Håfström também tem experiência no cinema de horror. Por isso, já foi contratado para dirigir 1408 (2006), baseado num conto de Stephen King - que pode ser lido nesse link.

FORA DE RUMO é um filme até que convencional, mas pra quem está um pouco cansado de filmes experimentais ou com cara de cinema independente, é até um alívio ver esse belo thriller. O filme apresenta um sujeito casado (Clive Owen) que tem uma filha com caso mais complicado de diabetes. Ele e a esposa economizam dinheiro há muito tempo para o tratamento da menina. Seu casamento, no entanto, não está indo muito bem. É quando ele conhece no trem, no trajeto para o trabalho, uma mulher atraente (Jennifer Aniston), que até lhe mostra a foto de sua filha também. Não leva muito tempo para os dois irem para a cama. Os problemas começam quando eles entram num hotel barato e lá são atacados pelo mesmo sujeito da portaria do hotel (Vincent Cassel, odioso). E isso é só o começo do inferno que vai se transformar a vida de Owen.

Desde o começo o filme explora esse lado da culpa. Owen diz para Aniston em certo momento que ele é, ao mesmo tempo, católico e judeu, quer dizer, carrega uma dupla culpa nos ombros. Até já gastara um dinheiro fazendo psicanálise, brinca ele. Nesse sentido, o filme é muito bem resolvido, aproximando-se de Hitchcock em alguns momentos. (Bom, posso estar exagerando um pouco a aproximação com Hitchcock.)

Poderia falar mais alguma coisa sobre a trama, mas acabaria deixando muitos spoilers e o filme merece ser visto sem se saber nada da história. Algumas situações até podem ser um pouco previsíveis pra quem costuma antecipar os finais dos filmes enquanto os vê, mas não pra mim. O importante é deixar claro aqui o quanto eu me empolguei com esse FORA DE RUMO.