segunda-feira, fevereiro 20, 2006

PONTO FINAL - MATCH POINT (Match Point)



Faz mais de quinze anos que Woody Allen é um dos meus cineastas preferidos. Pessoas que se consideram um pouco neuróticas ou que têm problemas em adotar uma vida saudável e "normal" tendem a amar os filmes de Allen. Mesmo quando o diretor se repete ele agrada. Eu, por exemplo, não consigo evitar o sorriso no rosto sempre que me sento na sala escura para assistir um novo filme dele - graças a Deus, todo ano ele vem com um filme novo. A tela preta com os letreiros brancos ao som do jazz traz uma familiaridade, uma sensação de estar num ambiente seguro: o mundo de Woody Allen. Às vezes os créditos de abertura me provocam uma emoção bem maior, como foi o caso de IGUAL A TUDO NA VIDA (2003), que abriu com "Easy to Love", do Cole Porter, cantada pela Billie Holiday.

A diferença que chama a atenção logo no início de PONTO FINAL - MATCH POINT (2005) é a substituição do jazz pela ópera, dando um ar mais grave, mais solene ao filme. Mas essa não é a única coisa diferente em MATCH POINT. Woody Allen surpreende ao inovar, entrando no território do drama dostoievskiano e do suspense hitchcockiano. O mais próximo que ele havia chegado desse território fora com o amargo CRIMES E PECADOS (1989). No novo filme, o tom é ainda mais amargo, já que não tem que dividir terreno com a comédia, embora haja momentos próximos do humor, como na cena em que a esposa de Chris (Jonathan Rhys-Meyers) observa a temperatura com o objetivo de checar se está apta para engravidar.

Outra diferença evidente é a mudança na geografia. Allen deixa um pouco a sua amada Manhattan para fazer um filme em Londres. A fotografia, dessa vez a cargo de Remi Adefarasin (de UM GRANDE GAROTO), valoriza a bela paisagem londrina, seja nos mostrando os já conhecidos pontos turísticos, seja mostrando a natureza passando pelas diferentes estações do ano. Destaque para a cena da chuva, onde Chris e Nola fazem sexo.

Allen, dessa vez, preferiu trabalhar com um elenco de desconhecidos - exceção para a americana Scarlett Johansson, no papel da sexy Nola. Inclusive, Allen gostou muito da Scarlett, já que ela está no elenco do seu novo filme, SCOOP (2006). Em MATCH POINT, ela é a mulher que vira a cabeça de Chris do avesso. Ele é um rapaz que vive dividido entre a esposa (Emily Mortimer) rica e a amante pobre. Ele fica enrolando a amante e não tem coragem de deixar a vida de luxo que a família da esposa lhe dedica.

Um dos momentos chave de MATCH POINT está no diálogo entre Chris, Lola e sua vizinha, depois do crime perpetrado por ele. Para Chris, ir preso pelo crime que cometeu seria uma prova de que existe uma justiça divina. Caso escape, ele terá que carregar até o fim de sua vida essa mancha na consciência. Para Woody Allen, tudo na vida é uma questão de sorte. Como na metáfora mostrada no início, no jogo de tênis. É uma visão bastante amarga e não comunga com o que eu penso, mas alguns dos melhores artistas, sejam eles escritores, cineastas, músicos, encontraram o seu ápice criativo na amargura, na acidez, no pessimismo. Com Woody Allen não foi diferente.

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