quinta-feira, dezembro 08, 2005

O GRITO (Il Grido)

 

As cerca de meia dúzia de filmes que eu assisti de Michelangelo Antonioni não me transformaram num fã do cineasta. Não o tenho com o mesmo afeto que tenho com Tarkovski, Truffaut ou Buñuel, para citar apenas cineastas europeus. É um diretor cujas obras eu preciso conhecer mais, me aprofundar mais. Aliás, um problema de eu ser um cinéfilo eclético (ô palavrinha pra eu não gostar) é que acabo não me especializando em nada, a nenhum gênero específico, e deixo de conhecer muitas cinematografias importantes. Acabei conferindo 

O GRITO (1957) meio que por acaso. A Carol tinha me emprestado o DVD e o fato de o filme constar no grupo dos 60 notáveis do Carlão me deu um empurrãozinho a mais para eu assistir logo. O GRITO é o filme que consolidou o estilo de Antonioni, que chegaria ao auge nos anos 60. Antes, Antonioni era um cineasta neo-realista, assim como Visconti também foi. O GRITO é o filme mais belo plasticamente que eu já vi do diretor. A fotografia do filme, as árvores sem folhas e as paisagens desertas lembram O DESERTO VERMELHO (1964), com a diferença principal de que em O GRITO a fotografia é em preto e branco. Um dos preto e brancos mais belos que eu já vi. As imagens são tão lindas que talvez até atrapalhem uma possível identificação do espectador com o protagonista, o angustiado e apaixonado Aldo, interpretado pelo americano Steve Cochran. 

Aldo é um homem que sofre com o abandono da mulher (Alida Valli). Ela deixou de amá-lo. Depois de tentar em vão - inclusive através de meios violentos - trazer a mulher de volta, ele acaba por deixar o povoado onde mora, com a filha, a fim de mudar de vida e aliviar a dor. Desse modo, ele acaba encontrando pelo caminho algumas mulheres carentes com quem ele se relaciona. De uma delas, inclusive, eu gostei bastante: a Virginia (Dorian Gray), do posto de gasolina. Porém, a memória que ele guarda da ex-esposa permanece o impedindo de ser feliz. 

Alida Valli é a bela protagonista de AGONIA DE AMOR (1947), do mestre Hitchcock. Na época de O GRITO, ela já não estava mais tão linda quanto no filme de Hitch. Ela já tinha desistido de Hollywood. Apesar de não ter dado certo no cinema americano, ela chegou a participar de memoráveis filmes europeus. Valli trabalhou com feras como Dario Argento, Mario Bava, Luchino Visconti, Bernardo Bertolucci e Georges Franju. 

Interessantes algumas elipses utilizadas no filme, como aquela que mostra Virginia no quarto com Aldo, causando uma certa surpresa no espectador. O problema é que, como eu adoro ver cenas de intimidade e de primeiro beijo, senti-me um pouco "roubado" com esse recurso. A trágica seqüência final não me agradou muito, não me abalou, mas não é nada que chegue a estragar a beleza do filme. 

O sentimento que O GRITO mais me provocou foi o de compaixão pelos personagens, o que já foi um grande salto em se tratando de filmes do Antonioni, que quase sempre me deixavam um pouco apático em relação aos personagens. O resultado foi que O GRITO ficou entre os meus favoritos do diretor, ao lado de BLOW-UP (1966), PROFISSÃO: REPÓRTER (1975) e ALÉM DAS NUVENS (1995). 

Agradecimentos à Carol Vieira, que me emprestou o DVD.

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