domingo, novembro 06, 2005

CIDADE BAIXA



Já não se faz mais público de cinema brasileiro como antigamente. Hoje as pessoas até reclamam de filmes que contêm cenas de sexo, alegando que elas são desnecessárias, gratuitas. Foi o que aconteceu com esse ótimo representante do novíssimo cinema brasileiro. CIDADE BAIXA (2005), de Sérgio Machado, mostra a relação amorosa de dois rapazes (Lázaro Ramos e Wagner Moura) com uma prostituta (Alice Braga, sobrinha de Sônia Braga). Alice, de apenas 22 anos, está participando de uma produção estrangeira filmada aqui no Brasil, com Brendan Fraser e Catalina Sandino Moreno no elenco.

CIDADE BAIXA é basicamente sobre a força dos hormônios sobre os homens. Eles não conseguem pensar direito; seguem os seus instintos, os seus desejos; pensam com a cabeça de baixo, alguns diriam. Também pudera, com um mulherão daqueles. Mas os hormônios do filme também se apresentam na violência masculina, especialmente na cena da briga de galo, que conta com a participação memorável de José Dumont.

CIDADE BAIXA é um filme que tem a seu favor um grupo de atores excepcionais. Ainda que o filme não fosse bom, o ingresso já estaria pago, só pra ver Lázaro Ramos e Wagner Moura novamente atuando. Curiosamente, esse já é o sexto filme que os dois rapazes fizeram juntos. Os outros foram: SABOR DA PAIXÃO (2000), AS TRÊS MARIAS (2002), CARANDIRU (2003), O HOMEM DO ANO (2003) e NINA (2004). Eles também estão em A MÁQUINA, de João Falcão, ainda inédito no circuito comercial, mas que pôde ser visto na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

Na trama, os dois rapazes trabalham como transportadores num barco, na Bahia. Eles se comportam e se amam como dois irmãos. Esse amor fraternal entra em xeque a partir do momento que eles conhecem Karinna, a prostituta que aceita carona até Salvador, em troca de um programa e de alguns reais em dinheiro.

Sérgio Machado é estreante em longa-metragem de ficção. Seu trabalho anterior mais conhecido é um documentário sobre Mário Peixoto intitulado ONDE A TERRA ACABA (2001). Em CIDADE BAIXA, ele divide os créditos do roteiro com Karim Ainouz, diretor de MADAME SATÃ (2002). É bom estar de olho nesses novos talentos que estão trazendo mais vigor ao cinema brasileiro. CIDADE BAIXA ainda pode dar muito que falar. O que dizer da seqüência final, com o belíssimo trabalho de som, acentuando a respiração dos protagonistas? A câmera tão perto que até parece que sentimos o odor de seus corpos, o calor da respiração, o gosto do suor e do sangue. Filmão.