sexta-feira, setembro 16, 2005

OLHOS ABERTOS (Wide Awake)



OLHOS ABERTOS (1998) é o tipo de obra que só ganha um valor maior hoje, se visto como embrião do que se tornaria M. Night Shyamalan nos filmes posteriores. O filme está longe de ser tão bom quanto os seus quatro títulos seguintes - que, pra mim que sou entusiasta do trabalho do homem, são quatro obras-primas -, mas é um bom filme e é um ótimo exercício de verificação dos temas de Shyamalan.

A história também é envolvente. Joshua é um garotinho de dez anos. Quando o seu querido avô morre, ele entra com a missão de falar com Deus, a fim de saber se o avô está bem, lá do outro lado. Como era de se esperar, a busca por Deus não é fácil e no meio do caminho ele se vê desanimado pelo ceticismo. A perda da fé iria ser melhor trabalhada em SINAIS (2002).

OLHOS ABERTOS serviu também como uma preparação para O SEXTO SENTIDO (1999), tanto pelo trabalho excelente com um ator infantil quanto pelo tema da chegada da morte, virando do avesso a vida das pessoas. Se hoje ele é de vez em quando comparado a Steven Spielberg, principalmente por trabalhar tão bem com crianças, é que talvez ele tenha sido mesmo influenciado por Spielberg. Dizem que quando ele tinha 12 anos de idade, Shyamalan foi ao cinema assistir CAÇADORES DA ARCA PERDIDA e isso mudou a sua vida para sempre. Foi a partir daquele momento que ele decidiu se tornar cineasta.

Assim como o garotinho de OLHOS ABERTOS, Shyamalan também estudou em escola católica. E como o roteiro do filme é de sua autoria, fica fácil imaginar que o personagem deve ter algo de autobiografia. Gosto de uma cena em que Joshua pergunta para sua professora se o seu tio irá para o inferno, já que ele não era batizado. Isso agitou a classe e a professora ficou sem saber o que responder. Qualquer resposta que ela dissesse iria comprometê-la. Até lembrei de quando eu era criança, quando lia a Bíblia e ficava me perguntando se o tal lago de fogo ardente mencionado no Apocalipse era mesmo de verdade.

A parte que fala sobre prestar atenção nos sinais nos leva inevitavelmente ao filme SINAIS, o que confirma que Shyamalan tem uma forte crença de que nada acontece por acaso. Em OLHOS ABERTOS, há uma cena interessante, quando Joshua resolve, sem mais nem menos, visitar o seu amigo com a mãe. Outra coisa que liga OLHOS ABERTOS a SINAIS: o filme é todo dividido em capítulos, sendo que um deles se chama justamente "The Signs".

O filme vai ganhando força à medida que vamos conhecendo o avô de Joshua, através dos flashbacks. Lá pelo final, vai ficando fácil pra gente entender porque Joshua gostava tanto de seu avô. Uma das cenas mais emocionantes é uma que mostra seu avô o recebendo de braços abertos, depois de ele ter caído numa brincadeira de corrida com os colegas da escola. A relação pai-filho se tornaria uma constante em todos os outros filmes do diretor, o que faz com que muita gente considere Shyamalan um babaca ou algo do tipo. Eu, já o admiro bastante. E no próximo ano tem LADY IN THE WATER.

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