domingo, agosto 07, 2005

TRAMA MACABRA (Family Plot)



E chega ao fim essa minha primeira etapa de peregrinação pela obra de Alfred Hitchcock, assim como a leitura do livro Hitchcock/Truffaut - Entrevistas. A sensação é de um pouco de tristeza. Afinal, acompanhar a ascensão de um mestre e depois ver o seu declínio não é fácil. Com o tempo a gente começa a gostar não apenas do cineasta Hitchcock, mas também do ser humano, daquele sujeito gordinho que devia ficar olhando, de braços cruzados, os colegas da escola brincarem, se sentindo um pouco rejeitado, mas ao mesmo tempo, com certo ar de superioridade.

Só fiquei um pouco decepcionado com o documentário de Laurent Bouzereau constante no DVD de TRAMA MACABRA (1976). Estava esperando uma homenagem maior, algo mais emocionante. Não que o filme não fosse suficientemente merecedor de um documentário exclusivo só pra si, mas, puxa, era o último filme do Hitch. É a sua despedida. De todo modo, o documentário desse filme é um dos mais gordinhos dessa série da Universal: tem 47 minutos de duração.

Quanto ao filme, pra variar, foi um prazer poder rever. Principalmente por eu já ter esquecido de quase tudo. Só tinha vivo na memória o lugar onde estava escondido o diamante. Falando no diamante, eu passei metade do filme tentando me lembrar quem era William Devane. Só depois de um bom tempo é que fui perceber que ele é o Secretário de Defesa da atual temporada de 24 HORAS. Quando ele era jovem, era feio do mesmo jeito.

Uma das coisas que eu mais gosto no filme é o modo como Hitch entrelaça as duas histórias, a elegância com que ele muda de uma história para a outra. De um lado, nós temos uma falsa vidente (a ótima Barbara Harris) e seu namorado (Bruce Dern); de outro, o casal de ladrões de diamantes interpretado por William Devane e Karen Black. No meio de tudo, um túmulo sem corpo. Entre as melhores seqüências, destaco a do carro descontrolado, que faz lembrar imediatamente a cena de Cary Grant dirigindo bêbado em INTRIGA INTERNACIONAL (1959), não por acaso roteirizado pelo mesmo Ernest Lehman.

Depois de uma obra-prima como FRENESI (1972), pode-se dizer que TRAMA MACABRA é uma queda de qualidade na filmografia de Hitch, mas há que se dar um desconto por causa do estado de saúde do mestre. Ele estava doente e usando um marca-passo, e sua esposa, Alma, tinha sofrido um primeiro derrame em Londres, enquanto Hitch filmava FRENESI e estava inválida. Hitchcock já não tinha saúde para fazer cenas externas. É sempre triste ver o fim de uma vida. Mas fazer o que? A vantagem de ser artista é poder se eternizar, de sobreviver ao tempo e falar a diferentes gerações.

Quanto a mim, vou dar um tempo nos filmes dele, pelo menos até o lançamento de alguns de seus outros filmes em DVD. Além de vários filmes da fase inglesa, estão faltando no mercado nacional alguns títulos da fase americana, como: UM CASAL DO BARULHO (1941), UM BARCO E NOVE DESTINOS (1943) e a obra-prima SOB O SIGNO DE CAPRICÓRNIO (1949). Seria um sonho também se lançassem em DVD um luxuoso box da série ALFRED HITCHCOCK PRESENTS que Hitch fez para a tv nos anos 50. Vi no site da Amazon que a primeira temporada vai sair nos EUA em outubro. Quem sabe não sai aqui no Brasil também.

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