domingo, agosto 14, 2005

TERRA DOS MORTOS (Land of the Dead)



Que emoção! Primeira vez que vejo um filme de George Romero no cinema. Até então, o meu contato com os filmes de Romero vinham apenas da tela pequena. Isso porque o bom velhinho - que Papai Noel que nada! - não lançava um filme desde A METADE NEGRA (1993), há mais de dez anos. BRUISER - VINGANÇA SEM ROSTO (2000) não conta, já que foi lançado por aqui só na TV a cabo. Pelo visto, os anos 90 não foram nada generosos com o Pai dos Zumbis.

Se não fosse o sucesso de filmes como EXTERMÍNIO , de Danny Boyle, MADRUGADA DOS MORTOS, de Zack Snyder, e TODO MUNDO QUASE MORTO, de Edgar Wright, todos de alguma forma homenageando a obra romeriana, o cineasta não teria conseguido perpetrar esse quarto filme da série dos mortos-vivos. Diante de toda a expectativa gerada por seu retorno, é claro que pode surgir uma pontinha de decepção com esse novo filme, mas, ainda assim, não deixa de ser um prazer poder conferir na telona o retorno do homem.

TERRA DOS MORTOS (2005) é um filme que tende a crescer com o tempo. Sua crítica social é sutil e dá o que pensar. Continuando o que ele já havia ensaiado em DIA DOS MORTOS (1985), aqui os zumbis começam a adquirir a capacidade de pensar. Não que haja algum zumbi intelectual nesse novo filme, mas há um deles, o que recebe o nome carinhoso de "Paizão", que tem inteligência suficiente para guiar toda a zumbizada para a cidade que até então estava protegida pela ameaça dos comedores de gente. Nada menos que a metáfora da sociedade americana pós-11 de Setembro, que achava que estava protegida e se vê abalada por uma ameaça terrorista de grandes proporções. Por falar em terroristas, há uma fala do personagem de Dennis Hopper que é bem familiar em tempos de dinastia Bush.

Falando no elenco, a primeira aparição de Asia Argento é memorável. Ela é jogada numa jaula com dois zumbis para servir de entretenimento para o público sádico, que usa os zumbis até para tirar fotos. É o capitalismo faturando em cima das desgraças. Além de Hopper e Asia, completam o elenco principal John Leguizamo como o empregado rebelde do chefão Hopper e o semi-desconhecido Simon Baker - ele esteve em O CHAMADO 2 -, como o herói do filme.

A comparação que se vai fazer com MADRUGADA DOS MORTOS é inevitável. Muita gente vai dizer que o filme de Snyder é melhor. E talvez seja mesmo, se levarmos em conta o andamento e o horror triplicado dos novos zumbis. Mas Romero é Romero. E só ele tem a profundidade de falar do mundo atual, de seu contexto sócio-político, através de filmes de horror. O final de TERRA DOS MORTOS nos leva à reflexão: até os zumbis têm direito à vida, mesmo já estando mortos. O que ele quis dizer com isso mesmo?

Pra finalizar, recomendo o excelente texto escrito pelo nosso colega Milton do Prado para a nova edição da Cine Imperfeito, que tem Romero como tema. Coisa fina.

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