quinta-feira, agosto 11, 2005

NINGUÉM PODE SABER (Dare Mo Shiranai)























Não sei se é impressão minha, mas talvez os japoneses estejam educando de maneira um tanto quanto rigorosa os seus filhos. Sem querer julgar a maneira que um povo educa suas crianças, mas o que me leva a pensar isso é a vasta quantidade de obras produzidas no Japão, onde são mostradas crianças passando por situações extremamente difíceis. Isso é ainda mais comum nos animes e mangás, onde, às vezes, a salvação do planeta está nas mãos de uma criança ou de um adolescente. O exemplo maior disso é a série NEON GENESIS EVANGELION.

Em NINGUÉM PODE SABER (2004), temos uma história baseada em fatos reais de um grupo de crianças que são abandonadas por sua mãe. Como não é permitido famílias com vários filhos morarem em condomínios de apartamentos pequenos, a mãe das crianças viaja com dois deles numa mala e uma outra viaja escondida para que nenhum vizinho saiba que ela tem quatro filhos. As crianças não podem sair de casa em nenhum momento, exceto uma delas, Akira, o mais velho, de 12 anos (interpretado pelo ótimo Yuya Yagira, prêmio de melhor ator em Cannes), que inicialmente faz de tudo para cuidar bem de seus irmãos quando sua mãe não está presente. Mas tudo tem o seu limite. Akira é uma criança e também precisa brincar e agir de maneira inconseqüente de vez em quando, já que ninguém é de ferro.

O diretor Hirokazu Kore-eda, de DEPOIS DA VIDA (1998), nos apresenta a história de um grupo de crianças que não tem o direito de existir. Não podem ir à escola, não podem sair na rua, não podem mostrar pra ninguém que elas existem. É uma história sobre pessoas invisíveis, como os mendigos que a gente está acostumado a cruzar nas ruas.

Como se já não bastasse a situação difícil que as crianças vivem, a coisa vai se agravando quando a mãe os abandona definitivamente. Como não sofrer vendo o jovem Akira, com um enorme peso nos ombros de tanta responsabilidade, tentando ligar para a mãe irresponsável? Ou, principalmente, na cena do aeroporto? Suas mãos trêmulas, cavando a terra, os olhos cheios de lágrimas, o sentimento de perda, de arrependimento, de desesperança. E o filme em nenhum momento age com histerismo, até esconde da visão da câmera o momento mais doloroso. Como se nos dissesse que a vida é assim mesmo. No máximo, podemos ficar tristes, mais nunca chegar ao desespero, já que alguém tem que se fazer de forte para ajudar os mais fracos.

NINGUÉM PODE SABER não é um filme fácil. É arrastado, lento e às vezes eu até achei que algumas cenas poderiam ter sido excluídas, mas depois de uns dias, a força do filme continua em minha memória.

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