segunda-feira, julho 25, 2005

O CASTELO ANIMADO (Hauru No Ugoku Shiro)



Estava deixando o tempo passar um pouco para amadurecer as idéias e escrever sobre O CASTELO ANIMADO (2004), mas não sei se vou pensar em algo inteligente para escrever, que possa fazer jus ao belíssimo filme de Hayao Miyazaki. Até dei uma vasculhada pela internet à procura de algumas análises, mas a maioria delas são superficiais. Vejamos se eu consigo colocar em palavras o que eu senti vendo esse filme.

Em O CASTELO ANIMADO, Miyazaki faz um elogio da velhice. Um assunto bastante atípico para uma produção supostamente dedicada ao público infantil. O negócio é que os filmes de Miyazaki também são suficientemente ricos para agradar ao público adulto. Dessa vez, ele abre mão até de uma protagonista adolescente, praticamente uma constante em seus filmes - exceto talvez PORCO ROSSO (1992). Quer dizer, a protagonista jovem está lá, mas dessa vez no corpo de uma velha de cerca de 90 anos.

A trama de O CASTELO ANIMADO se passa numa espécie de Europa imaginária do século XIX. Nesse lugar, a magia e a ciência coexistem e se completam. Inclusive, nesse novo filme, Miyazaki inventa novas máquinas voadoras, lembrando as belezuras de NAUSICAÄ OF THE VALLEY OF THE WINDS (1984). Está havendo uma guerra - por razões um pouco nebulosas - e é no meio dessa confusão que a jovem Sofie conhece o mago Hauru (ou Howl, no inglês), que sem querer a envolve nas rixas que ele tem com uma bruxa. A tal bruxa depois invade a loja de chapéus de Sofie e a transforma numa velha corcunda e enferrujada. Completando a maldição, a bruxa ainda a impede de contar para qualquer pessoa sobre o feitiço. Em seguida, triste e amargurada, Sofie parte para o reino dos magos, em busca de um antídoto para o seu problema.

Quem não está habituado a tantas coisas fantasiosas pode ficar um tanto perdido. Mas para as crianças, ou os adultos com mente mais aberta, o filme é uma verdadeira festa. A começar pelo castelo do título, que tem pernas, é movido por um demônio em forma de fogo, e ainda possui um portal para outras dimensões, bastando selecionar a cor da dimensão de sua preferência.

Eu sempre achei que os melhores desenhos animados são aqueles que não têm medo de assustar as crianças. Eles são mesmo assustadores. Lembro que eu ficava apavorado quando via o Pinóquio se transformando em burro, ou perturbado com a maldade de Peter Pan, que era para ser um herói, nos filmes da Disney. Nos filmes de Miyazaki as diferenças entre o bem e o mal são ainda mais complexas. Senão, vejamos: 1) Hauru, um dos personagens principais é acometido por um mal e tem algo de sombrio por flertar com a magia; 2) um dos personagens mais divertidos do filme é um demônio; e 3) a bruxa malvada que transformou Sofie em velha, mais na frente, vai ser objeto de graça para o filme. Vem dela os momentos mais engraçados. Acho que devo ter gargalhado umas três vezes sempre que ouvia ela dizer "Que foguinho lindo!" (a dublagem brasileira está de parabéns).

Sofie tem uma capacidade incrível de perdoar. É como se, ao envelhecer, ela passasse a adquirir também uma sabedoria, uma maneira de ver a vida mais bela. Linda a cena em que ela, velhinha, comtempla o horizonte e diz que nunca havia sentido tanta paz. Além de uma história de perdão, O CASTELO ANIMADO é também uma história de amor. Que no filme é mostrado como um sentimento que vivifica, que rejuvenesce. Grande Miyazaki.

P.S.: Está no ar no Cinema com Rapadura minha mais recente coluna. Dessa vez, eu dou algumas sugestões de livros de cinema.

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