domingo, julho 17, 2005

FRENESI (Frenzy)



Como seria bom se todos os filmes de Alfred Hitchcock tivessem o mesmo tratamento em DVD que os lançados pela Universal tiveram. Até mesmo os filmes menos brilhantes do mestre receberam um documentário de respeito, abordando aspectos interessantíssimos da obra. Da vez anterior eu tinha me deliciado com o documentário sobre TOPÁZIO (1969), que fez com que eu passasse a gostar mais do filme, apesar de seus problemas. Agora, com a oportunidade de rever FRENESI (1972), a última obra-prima de Hitch, conferi o ótimo documentário de 44 minutos.

Laurent Bouzereau, o genial produtor dos documentários, aparece dessa vez fazendo até uma piadinha com uma gravata, que no filme é a arma do crime do maníaco. FRENESI foi um alívio para Hitch, que estava triste com o fracasso de TOPÁZIO e reclamava das mudanças do cinema feito em Hollywood. Por isso, ele retornou à Inglaterra e recrutou atores praticamente desconhecidos, como se recrutasse carpinteiros. Isto é, bastava fazer um bom trabalho. Ele não precisava de astros. O ator mais famoso do elenco é talvez John Finch, que tinha acabado de fazer MACBETH, de Roman Polanski, mas na época de seu recrutamento o filme nem tinha estreado ainda.

Todos que foram chamados por Hitch para trabalhar no filme receberam a notícia como uma dádiva divina. Imagina uma pessoa que não tem nenhuma relação com Hollywood ter a chance de trabalhar com o mestre do suspense! Por isso que quando vemos todo o elenco do filme, assim como o roteirista Anthony Shaffer, relembrando o momento com certo deslumbramento, temos certeza que o motivo é mais do que justo.

FRENESI é um dos melhores filmes de Hitchcock. Desses que a gente assiste e nem vê o tempo passar tal o prazer que nos provoca. Fica difíci desgrudar os olhos da tela. E é um prazer aliado ao horror, já que também se trata de um de seus mais aterrorizantes filmes. Tanto que Hitchcock só nos mostra a cena do assassinato uma única vez. É o bastante. Na segunda cena de assassinato do "maníaco da gravata", Hitchcock, muito elegantemente, nos convida a nos retirar da cena do crime, num belo travelling que vai da porta do apartamento de Bob Rusk (Barry Foster), descendo as escadas, até a rua. Ele nos poupa de ver novamente o horror.

Um detalhe que eu acho impressionante na primeira cena de assassinato é que a vítima diz: "Jesus, help me!", depois de recitar o Salmo 91 enquanto estava sendo estuprada. Hitchcock poucas vezes conferiu um grau de realismo tão grande como nesse filme. Claro que a escolha de um elenco com pessoas "normais", sem nenhum astro e nenhuma loira gostosa, ajudou bastante a conferir um ar quase documental a esse trabalho.

O filme traz o velho tema do homem perseguido por um crime que não cometeu. Tema este que está presente em sua obra desde O INQUILINO SINISTRO (1926), talvez o filme de Hitchcock que guarda relação mais próxima com FRENESI. Tanto pelo fato de se passar em Londres, quanto pela presença de um assassino serial e a perseguição a um inocente. Não é uma bela maneira de voltar às origens? FRENESI trazia um Hitchcock envelhecido mas com espírito jovem. E isso transparece em cada fotograma.

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