sexta-feira, julho 15, 2005

ANJOS DO INFERNO (Hell's Angels)



Assim que saí da sessão de O AVIADOR, de Martin Scorsese, senti uma vontade muito grande de ver ANJOS DO INFERNO (1930), do aviador, cineasta e milionário excêntrico Howard Hughes. Felizmente, antes que a Universal botasse o DVD no mercado - se é que vai botar mesmo -, a ClassicLine se antecipa e lança o filme discretamente. Como a qualidade dos filmes lançados por essa distribuidora variam entre o ótimo e o ruim, nunca dá pra ter certeza da qualidade do material. Então, é sempre bom quando alguém avisa. Então, aviso aqui que a qualidade do DVD está bem boa.

O que mais me fascinou quando eu vi os dois filmes, tanto o do Scorsese quanto o de Hughes, foi a coragem daqueles homens dos anos 20 e 30 em pilotar aqueles teco-tecos. E os sentimentos de medo e de excitação que eu sinto ao ver esses aventureiros fazendo piruetas no céu e correndo risco de vida estão personificados nas personalidades dos dois irmãos, os protagonistas do filme. De um lado, temos Monte (Ben Lyon), mais consciente dos perigos de pilotar aviões de batalha durante a 1ª Guerra Mundial, mas que pode ser visto como um covarde; o medo o domina. De outro, Roy (James Hall), idealista, corajoso e patriota. Para ele, vale tudo para defender o seu país (a Inglaterra), nem que pra isso ele precise matar ou morrer.

As personalidades dos dois irmãos também são diferentes quando o assunto é mulheres. Se Roy é um pouco ingênuo, vê Helen (Jean Harlow) como a mulher ideal, acreditando erroneamente que ela o ama e que nunca irá traí-lo; Monte já vê as mulheres apenas como objetos de prazer, já tem uma visão mais cínica da coisa. Ele acaba caindo uma vez nos encantos de Helen, mas não sentimentalmente.

Os filmes dessa época eram bem mais ousados do que os dos anos 40 e 50, período em que os EUA se submeteriam a uma censura violenta. Os próprios anos 20 foram anos loucos, parece que as pessoas viviam como que num estado de excitação contínua. Quanto a Jean Harlow, pode-se até dizer que ela não é bonita, mas é inegável seu sex appeal. Chega a ser excitante suas insinuações a Monte, seu vestido que deixa as costas nuas, o momento que ela se entrega a ele em seu apartamento, sua vulgaridade. Uma das frases dela no filme (para Monte): "Would you be shocked if I put on something more comfortable?".

Mas falemos do aspecto mais importante do filme que são as cenas de aviação, já que essas foram as realmente dirigidas por Hughes - as cenas de diálogo ficaram sob os cuidados de James Whale, que mais tarde faria alguns sucessos do cinema fantástico para a Universal, como FRANKENSTEIN (1931), O HOMEM INVISÍVEL (1933) e A NOIVA DE FRANKENSTEIN (1935). Pois bem, as tais cenas de aviação, algumas delas, Scorsese já nos tinha apresentado trechos em O AVIADOR, que foram as das colisões dos aviões numa batalha no céu e do Zeppelin em chamas. Nessa cena do Zeppelin, inlusive, utilizou-se técnicas primitivas de colorização. Em várias cenas do filme, há momentos em que vemos cores.

As cenas no céu impressionam até hoje, principalmente quando sabemos que algumas pessoas chegaram mesmo a morrer nessa brincadeira. Tenho impressão até que aquela cena de colisão dos aviões foi real e Hughes acabou aproveitando no filme. Se isso for verdade mesmo, não deixa de ser uma atitude mercenária a dele.

Outra curiosidade é que algumas cenas ainda têm cara de cinema mudo, mesmo com a inserção do áudio. Isso aconteceu por causa da demora nas filmagens. Por isso, Hughes resolveu refilmar tudo de novo com o surgimento do cinema falado, mas acabou aproveitando algumas cenas da fase muda, como a seqüência do zeppelin, por exemplo.

Howard Hawks era um grande admirador de Hughes. Tanto que no ano seguinte acabou fazendo um filme sobre aviação - THE DAWN PATROL - e Hughes o acusou de plágio. Depois de muitas brigas, os dois acabaram trabalhando juntos em SCARFACE (1932). Mas isso já é outra história.

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