sexta-feira, junho 10, 2005

XV CINE CEARÁ, A MELHOR EDIÇÃO DO FESTIVAL CEARENSE



E chegou ao fim ontem, deixando saudade, a 15ª edição do festival de cinema daqui de Fortaleza. Pra mim foi a melhor edição do Cine Ceará que eu já participei. Claro que eu sou muito suspeito pra falar, né? Afinal, não é todo mundo que tem o privilégio de ter uma sessão de um filme de Carlos Reichenbach especialmente dedicada pra si. Fiquei felicíssimo ontem com os prêmios que BENS CONFISCADOS ganhou no festival. (As duas cervejas que tomei ajudaram a potencializar minha alegria.) Carlão ontem à noite falou que fui eu que dei sorte pro filme dele. Aí me lembrei de quando eu era pequeno e meu pai me levava pra uns bingos e era impressionante como a gente ganhava os prêmios com freqüência. Meu pai me dizia que eu dava sorte. Quando o Carlão falou isso ontem, na Praça do Ferreira, lembrei de meu pai.

Aliás, eu não canso de falar da generosidade e do senso de humanidade do Carlão. Quando ele subiu pra receber o prêmio de melhor ator para Werner Schünemann, ele elogiou tanto o amigo que ficou emocionado. Os outros prêmios de BENS CONFISCADOS foram para o próprio diretor e para a Betty Faria. Muito justo. Ela está excepcional no filme. Essa mulher é um gigante do cinema brasileiro. Infelizmente ela não pôde vir receber o prêmio, pois estava indo para Miami, mas deve ter ficado bastante feliz. O filme também ganhou um troféu especial de melhor longa-metragem concedido pelo jornal O Povo.

A noite de ontem já começou interessante. Fui com o amigo Zezão, ambos sem convites para convidados. Ao chegar lá, ficamos sabendo que não se podia entrar a não ser com convites. Realmente fui negligente - devia ter ido atrás do convite antes. Foi necessária uma pequena conspiração envolvendo o Carlão, o Jurandir, a Maíra e o Régis para me botar pra dentro da sala. Acabei entrando com o crachá de outra pessoa que eu não vou dizer aqui pra não prejudicar ninguém. O grandão da portaria ainda perguntou: "é teu esse crachá, cara?" Eu falei: "é nosso", e entrei posando de sério. Adivinhem de quem foi a idéia do tal crachá. O outro problema era botar o Zezão pra dentro (pior que depois ele ainda iria buscar a namorada, o que seria outro problema). Ele conseguiu entrar minutos depois, quando o Cine São Luiz abrigou várias pessoas por causa de um tumulto na praça. Ouviu-se tiros. A PM chegou e levou uns sujeitos. Depois ficou-se sabendo que aquilo ali era uma pegadinha/encenação do grupo Set Soluções Criativas. E eu achando que a gente estava se igualando ao Rio de Janeiro.

Antes das premiações foi exibido o documentário O HOMEM PODE VOAR, de Nelson Hoineff, em projeção digital. Mas do filme eu falo depois. Vou aproveitar esse parágrafo pra falar um pouco dos poucos curtas-metragens que vi no festival. No sábado passou A SETENÇA DO PAU BRASIL, de Francis Vale, curta em película, sobre Pau Brasil, personagem histórico da época da Confederação do Equador. Achei o filme muito didático, parecendo uma aula de história. UMA PESCADORA RARA NO LITORAL DO CEARÁ faz parte do projeto Revelando os Brasis e mostra a vida de Sidnéia Luzia da Silva, uma mulher que gosta de fazer o que normalmente apenas os homens fazem. Sua profissão: pescadora. Esse foi um dos poucos curtas exibidos em vídeo no Cine São Luiz. Esse ano, botaram todos os curtas de vídeo para o Espaço Unibanco Dragão do Mar, o que irritou muitos realizadores que adotam esse meio, que acharam que tiveram seus trabalhos relegados e diminuídos. Uma videomaker ontem fez um protesto sobre isso. A VELHA E O MAR, de Petrus Cariry, é bem interessante. Fala de Dona Alzira, uma senhora que mora num casebre próximo da ponte metálica na Praia de Iracema. O curta MOMENTO TRÁGICO é uma comédia que foi prejudicada pela má qualidade do som do cinema na noite de sábado (no domingo, o som estava bem melhor). Pelo menos eu aprendi que quem é fã de Maria Betânia provavelmente é gay. Acho que o curta mais interessante que eu vi no festival foi BALAIO, de Luiz Montes, filme que emula a estética de Quentin Tarantino e Robert Rodriguez. Esse e INTIMIDADE, de Camilla Gonzatto, são dois curtas que eu gostaria de rever, já que estava muito agitado e não me concentrei na história.

Pena não ter ido ver os curtas gaúchos. Queria ter visto especialmente O VELHO DO SACO, do amigo Milton do Prado em parceria com Amábile Rocha. Por falar no Milton, ontem o Carlão me apresentou a Marcus Mello, amigo dele e editor da ótima revista Teorema. Ele falou que vai me enviar umas edições da revista. Maravilha. O cara é gente fina. Falou da dificuldade que tem em botar a revista nas bancas, sempre tendo que tirar uma boa grana do próprio bolso pra fazer acontecer.

Outra pessoa que conheci pessoalmente foi o Marcelo Lyra, poeta, crítico de cinema e autor do livro "Carlos Reichenbach". O cara se revelou um mestre na arte de criar jogos de palavras. Ele criou até um slogan para o site Cinema com Rapadura, parafraseando Che Guevara: "Hay que endurecer-se pero sin perder la doçura". Falando nos "rapaduras", nesse festival, tive mais chance de me aproximar mais dessa turma, já que eu sou uma espécie de membro ausente do CCR.

O momento glorioso da noite foi quando, no final da premiação, tirei uma fotografia com o Carlão e a Dira Paes. Gosto muito dela desde CORISCO E DADÁ, mas me tornei fã mesmo a partir de AMARELO MANGA, talvez sua melhor performance nas telas. Ela é uma simpatia de pessoa. Um detalhe interessante é que, no momento dessas fotos, as três ceguinhas de Campina Grande faziam show na Praça. O filme A PESSOA É PARA O QUE NASCE tinha ganhado o prêmio principal da noite. Desses momentos, eu nunca vou me esquecer.



Ao lado do Carlão, no auditório do Ponta Mar Hotel, depois do debate de terça-feira.

Abaixo, relação dos premiados:

Premiação Longa-metragem:

Melhor filme: A pessoa é para o que Nasce
Direção: Carlos Reichenbach - Bens Confiscados
Fotografia: Mario Carneiro e Dib Lufti - Seo Chico, Um retrato
Roteiro: Sergio Bianchi, Eduardo Benaim e Newton Canito - Quanto Vale ou é por Quilo?
Trilha sonora original: Julio Medaglia - A Marca do Terrir
Direção de arte: Renata Tessari - Quanto Vale ou é por Quilo?
Melhor atriz: Betty Faria - Bens Confiscados
Melhor ator: Werner Schüneman - Bens Confiscados
Montagem: Paulo Sacramento - Quanto Vale ou é Por Quilo?
Ator Coadjuvante: Lázaro Ramos - Quanto Vale ou é por Quilo?
Atriz Coadjuvante: Ariclê Perez - Quanto Vale ou é por Quilo?
Som: Juarez Dagoberto - Por Trinta Dinheiros
Prêmio Especial do Júri: Moacir Arte Bruta - Walter Carvalho

Curtas-metragens (Vídeo):

Melhor vídeo: Meu Nome é Paulo Leminski, Cezar Migliuorin
Direção: Cezar Migliuorin, Meu Nome é Paulo Leminski
Fotografia: Emerson Pessoa por Sexo com Objetos Inanimados
Edição: João Maria, Ave Maria: Mãe dos Oprimidos
Roteiro: Erico Campos Rassi, Sexo com Objetos Inanimados
Direção de Arte: Paulinho Pesoa, Miragem
Ator: Lucio Macedo, Sexo com Objetos Inanimados
Atriz: Ester França e Juliana Macedo, Miragem
Som: Osmar Assis e Felipe Machado, Ave Maria: Mãe dos Oprimidos
Prêmio Especial do Júri: Cortejo - O Grande Pênis Branco

Curtas-metragem (Película 16 e 35mm):

Melhor filme 16mm: Curta Metragem Metalingüístico de Baixo Orçamento ou Aceita Mais Café?, Byron O'Neil
Melhor Filme 35mm: Intimidade, Camila Gonzatto
Direção: Joana Oliveira, Habanera
Fotografia: Roberto Iuri, Canoa Veloz
Edição: Eric Laurence, Entre Paredes
Roteiro: Cristiane Oliveira, Messalina
Trilha sonora original: Nana Vasconcelos, Entre Paredes
Direção de arte: Maíra Coelho, Intimidade
Ator: Fernando Alves Pinto, Intimidade
Atriz: Vanise Carneiro, Messalina
Som: Nicola Hallet, Entre Paredes

Categoria sem Bitola
Melhor Animação: O Vampiro, Douglas Alves Ferreira
Melhor Produção Cearense: Canoa Veloz, Tibico Brasil e Joe Pimentel
Melhor Curta com temática nordestina (BNB): Paola, Eduardo Chaves


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