domingo, abril 17, 2005

PARA SEMPRE NA MINHA VIDA (Come Te Nessuno Mai)

 

PARA SEMPRE NA MINHA VIDA (1999) é mais um belo exemplar do novo cinema italiano. Já tinha visto o filme posterior do diretor Gabriele Muccino, o encantador O ÚLTIMO BEIJO (2001), que fez muito sucesso no circuito alternativo quando lançado nos cinemas há um par de anos. Se em O ÚLTIMO BEIJO, Muccino abordava a vida de quem tem trinta e poucos anos e está prestes a se casar, em PARA SEMPRE NA MINHA VIDA, ele lança luz na adolescência e na descoberta da sexualidade. 

Neste filme, Silvio (Silvio Muccino, irmão mais novo do diretor Gabriele Muccino e que também está em O ÚLTIMO BEIJO e em IL CARTAIO, de Dario Argento), é um jovem de 16 anos que sonha em perder a virgindade e começar logo a namorar. Ele tem um amigo da mesma idade que compartilha com ele do mesmo desejo. Da turma, o mais invejado é Martino, o único que tem namorada e que conta para os amigos detalhes de sua intimidade com Valentina. 

O bicho começa a pegar mesmo quando Silvio, durante uma ocupação dos estudantes rebeldes à escola, beija Valentina e conta depois para um de seus colegas, que espalha pra outro, e em questão de minutos todo mundo fica sabendo. A vantagem de toda essa confusão é que só assim Claudia, uma garota apaixonada por Silvio, resolve se declarar para o rapaz. 

A menina que interpreta a personagem Claudia chama-se Giulia Steigerwalt. Por causa dela que o filme ganha maiores dimensões. Ela empresta à personagem uma beleza de estar amando que só vendo - ajuda o fato de ela ser bonita também. A cena dela com Silvio na varanda do prédio, ao som da música emocional de Paolo Buonvino, que ganhou prêmio de melhor trilha sonora no Festival de Veneza, é o ápice do filme. 

Um assunto bem interessante que o filme aborda é a falta de maiores motivações políticas dessa geração de fim dos anos 90, que na falta de algo no que acreditar tenta imitar a geração dos anos 60/70 com as mesmas figuras de Che Guevara e com aquele linguajar comunista anacrônico, que pode até ser comparável à linguagem repetida de algumas religiões.

Falando em diferença de gerações, um dos pontos altos do filme é quando a mãe de Silvio, que tem também mais dois outros filhos, se vê sozinha em casa, já que os filhos não contam pra ela o que se passa em suas vidas. Por mais que os pais tentem usar de psicologia, essa barreira entre gerações parece inevitável, já que os jovens geralmente só se sentem à vontade para conversar sobre coisas mais íntimas com pessoas de sua idade. 

O filme também mostra o início da "dominação" do jovem dentro da família. O telefone quando toca, por exemplo, é para Silvio, e não para um de seus pais. Vê-se que à medida que a pessoa vai envelhecendo vai ficando cada vez mais solitária e que o mundo cada vez mais se volta para os mais jovens. Não que o filme aprofunde esse tema. Mas é possível perceber um pouco disso. 

Outro aspecto interessante é que as meninas no filme são mais inteligentes e maduras do que os meninos, que são uns trapalhões, não sabem fazer nada direito. Que elas amadurecem mais cedo em se tratando de namoro, comportamento e relacionamentos todo mundo já sabe, mas nesse filme, elas são mais inteligentes até filosoficamente falando. Como se pode ver na conversa que Claudia tem com Silvio no museu. Ela fala sobre a morte e sobre a morte da memória, coisas que jamais passaram pela cabeça do superficial garoto. 

PARA SEMPRE NA MINHA VIDA pode não ser tão bom quanto O ÚLTIMO BEIJO, mas é um filme que confirma o talento do diretor Gabriele Muccino como autor e como alguém capaz de mexer com as emoções do público e de tocar em memórias e sentimentos adormecidos. 

Sobre o diretor, um de seus mais recentes filmes, RICORDATI DI ME (2003), chegou a ser exibido numa edição do Festival do Rio, mas continua inédito no circuito comercial. O filme aborda a relação de pessoas de meia-idade e traz no elenco a musa Monica Bellucci, o que por si só já justifica uma espiadela.

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