terça-feira, abril 19, 2005

BE COOL - O OUTRO NOME DO JOGO (Be Cool)

 

Uma das cenas mais interessantes de BE COOL (2005) é aquela do discurso de Cedric the Entertainer sobre a importância da cultura negra na sociedade americana, enquanto ele ameaça seus inimigos no escritório do personagem de Harvey Keitel. Esse é talvez o único momento sério do filme de F. Gary Gray. Claro que é inegável a contribuição do negro na cultura do mundo todo, mas não deixa de ser uma ironia essa valorização do estilo negro de ser justamente nesses tempos de moda hip hop nos EUA. 

Lembro que quando assisti ALI, de Michael Mann, com aquela primeira parte ao som da música maravilhosa de Sam Cook, que vi o quanto a música negra caiu de qualidade com esse negócio de hip hop. Claro que isso é tudo questão de gosto e isso não se discute, mas como estou aqui pra expor minhas insatisfações, então tá valendo. Nesse caso, posso dizer que não vejo graça nessa onda gangsta rap, a não ser para se fazer personagens para filmes, mas o que eu não acho legal é a molecada de hoje, inclusive os brancos, ficar se apoiando nesse estereótipo pra ficar fazendo cara de mau e usar aquelas calças baixas e mostrando a cueca. 

Há quem diga que isso pode não ser o foco principal do filme, mas acredito ser um dos pontos fundamentais. Principalmente se você sabe que F. Gary Gray é negro e começou em Hollywood fazendo filmes sobre negros, como SEXTA-FEIRA EM APUROS (1995) e ATÉ AS ÚLTIMAS CONSEQÜÊNCIAS (1996). Depois é que entrou para o primeiro time de Hollywood com os ótimos O NEGOCIADOR (1998) e UMA SAÍDA DE MESTRE (2003), onde se revelou um mestre da ação. Ainda não vi O VINGADOR (2003) que ele fez com o Vin Diesel, mas imagino que seja bem legal. 

Mas não foi pela mudança de direção que BE COOL causou expectativa. Foi por causa do retorno de John Travolta a um de seus personagens mais carismáticos, o Chili Palmer, e pela participação de Uma Thurman, repetindo uma cena de dança que ela havia protagonizado com Travolta no clássico PULP FICTION. Bom, quem esperou pela tal cena de dança deve ter tido uma baita duma decepção. Em vez do ritmo gostoso de Chuck Barry, temos agora uma música sem graça do The Black Eyed Peas e uma dança esfrega-esfrega com zero de sensualidade. 

As cenas musicais são uma xaropada só, o que só comprova o quanto anda decadente a música mainstream americana. Achei ruins especialmente as cenas que envolvem Christina Milian, a cantora clone de Beyoncé, que no filme é a protegida de Travolta e Uma Thurman. Vince Vaugn, continuo não achando muita graça nele. Ele faz parte de uma turma de comediantes bem interessante, e que tem feito vários filmes juntos atualmente. Mas ele não chega a ser engraçado em nenhum momento. E Uma Thurman, poucas vezes esteve tão sem brilho. 

Apesar de ter muitos pontos contra, o filme até que tem momentos bem interessantes, além do já citado discurso de Cedric. A história não tem a menor importância e desde o começo, com John Travolta dizendo que odeia continuações, que sabemos que o tom do filme é de completo deboche e despretensão. 

Entre os destaques do filme estão:
a) The Rock - ele faz um guarda-costas gay super-engraçado;
b) Andre 3000 - o vocalista do Outkast faz Dabu, um dos capangas do mafioso interpretado por Cedric the Entertainer - engraçado quando Travolta o cumprimenta;
c) a moça do The Black Eyed Peas, que é linda, independente de sua música ser fraca ou não;
d) a cena em que o Aerosmith canta "Cryin'" - tudo bem que Aerosmith hoje em dia se tornou quase insuportável, mas essa canção é emocionante e me faz lembrar a Alicia Silverstone;
e) fora isso o filme se dá ao luxo de ter Danny DeVito e James Woods em participações bem pequenas, além de pontas de Sergio Mendes, Wyclef Jean, Fred Durst, Gene Simmons, RZA, etc. 

No balanço geral, dá pra sair na dúvida se a experiência de ver o filme valeu a pena ou não. Acho que valeu sim. Principalmente pela surpresa de ver The Rock mandando ver como comediante.

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