segunda-feira, março 28, 2005

REENCARNAÇÃO (Birth)



Fim de semana bacana esse que passou. Suspeito que o melhor que eu tive no ano, junto com o feriado em que estive em São Miguel do Gostoso-RN para receber o Quepe do Comodoro. Pra começar, na quinta-feira fiz uma dobradinha no cinema com O CHAMADO 2 e REENCARNAÇÃO. Entre uma sessão e outra, achei o livro "Maldito - A Vida e o Cinema de José Mojica Marins, o Zé do Caixão" por uma pechincha. Do mesmo autor, já tinha lido "Barulho", que André Barcinski tinha escrito sobre o rock americano do início da virada da década de 80/90, flagrando o início do fenômeno Nirvana, entrevistando Joey Ramone, etc. Barcinski, que escreveu "Maldito" junto com Ivan Finotti, tem um estilo de escrever muito gostoso de se ler. O livro já foi lançado desde 1998 e ainda está na primeira edição, mas antes tarde do que nunca adquirí-lo. "Maldito" fez sucesso até no Porto das Dunas, onde fui passar o feriadão com uma turma muito gente fina. O pessoal ficou até querendo ir atrás dos filmes mais podreiras de Mojica, como aquele de sexo explícito com um pastor alemão. Mas falemos de REENCARNAÇÃO.

Primeiro filme que vejo do diretor Jonathan Glazer. Não vi SEXY BEAST (2000), que teve uma distribuição bem discreta nos cinemas e já passou na tv paga (FOX) e eu não dei muita bola pra gravar ou assistir. O diretor é mais um que vem dos videoclipes. Mas os videos que ele dirigiu são bem respeitáveis: "Street Spirit" e "Karma Police", do Radiohead; "The Universal", do Blur; "Virtual Insanity", do Jamiroquai; "Karmacoma", do Massive Attack.

Ainda há um certo preconceito dentro da crítica de cinema com diretores vindos dos videoclipes, mas acredito que aos poucos isso vai desaparecendo à medida que diretores como Michel Gondry, Mark Romanek, Spike Jonze e David Fincher vão fazendo bons filmes.

REENCARNAÇÃO (2004), apesar de privilegiar o visual, com a bela fotografia de Harris Savides, que já trabalhou com David Fincher e Gus Van Sant, não tem o ritmo acelerado dos vídeos musicais. Ao contrário, o ritmo é bem lento e estabelece um clima de mistério e estranheza bem interessante. Não se trata aqui de um clima típico de filme de horror, apesar de o tema inicialmente tratar de um assunto ligado ao mundo espiritual.

O roteiro é do grande Jean-Claude Carrière, antigo colaborador de Luis Buñuel em algumas de suas obras-primas. Não via um filme com roteiro dele desde o fim dos anos 80, com A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO SER (1988) e VALMONT (1989). Não que ele tenha estado parado: os filmes que ele roteirizou, em sua maioria franceses, é que não têm chegado aqui.

Na intrigante história de REENCARNAÇÃO, Nicole Kidman é uma mulher que depois de ter sofrido muito com a morte do marido que amava, aceita se casar de novo. No dia em que é anunciado o casamento, durante a festa de anivesário da matriarca Lauren Bacall (ótima), um menino de dez anos (Cameron Bright) chega até o apartamento dela e lhe diz que é Sean, o seu marido morto há dez anos, e pede para que ela não se case novamente. As pessoas aos poucos vão começando a acreditar no garoto, à medida que ele vai mostrando saber de muitas coisas.

Talvez por causa da recepção fria da crítica que eu tenha me surpreendido com as qualidades desse filme de estranha beleza. Numa das seqüências mais memoráveis, a câmera fica estática, focalizando em close o rosto perturbado de Nicole Kidman quando ela vai com o noivo para o teatro. Não contei o tempo, mas acredito que ficamos olhando para o rosto de Nicole por mais de dois minutos. Com essa cena, vemos a excelência da performance de Nicole, variando suas expressões faciais e mostrando sua apreensão e mal estar diante daquele garoto que dizia ser o seu amado marido. Ela não aparece bonita no filme. Até lembra a Mia Farrow em O BEBÊ DE ROSEMARY, com aquele cabelo curtíssimo. Há quem diga que esse negócio de se enfeiar é estratégia para mostrar que é boa atriz - lembrando que ela já tinha colocado uma prótese no nariz para fazer AS HORAS -, mas acredito que no caso de Nicole, ela não precisa mais provar nada.

REENCARNAÇÃO também tem o mérito de fugir dos clichês dos filmes de horror ou do melodrama. Até por ter optado em não se enquadrar em nenhum desses gêneros.

P.S.: Pra quem se interessa em baixar alguns videoclipes de Jonathan Glazer e de outros diretores, eis um ótimo link. Ainda não chequei a qualidade dos downloads, mas fica a dica assim mesmo.