sábado, fevereiro 26, 2005

REFÉM DE UMA VIDA (The Clearing)

 

REFÉM DE UMA VIDA (2004), de Peter Jan Brugge, é bem diferente do que normalmente se espera de um filme sobre seqüestro - O PREÇO DE UM RESGATE, de Ron Howard, é o que mais facilmente me vem à cabeça como um exemplo clássico. Não que não haja doses de suspense no filme. Há bastante, mas o filme de Jan Brugge é mais intimista, concentrando-se no relacionamento entre seqüestrador e refém e na angústia da esposa do seqüestrado. 

Um dos pontos altos do filme é a montagem, que alterna os momentos em que Robert Redford é levado pela floresta pelo seqüestrador (Willem Dafoe) e os momentos em que Helen Mirren pede ajuda ao FBI para ajudar nas negociações do resgate do marido. Há uma espécie de antecipação da história nas cenas de Helen Mirren, criando uma interessante expectativa, já que ficamos sabendo de parte do que aconteceu com Redford, mas queremos saber mais. As cenas com Helen Mirren estão sempre cronologicamente à frente das cenas com Redford e Dafoe. 

O título original do filme (THE CLEARING) se refere à clareira entre as árvores, na floresta. Também pode significar "acerto de contas". Numa interpretação mais livre, me passou pela cabeça que poderia se referir também ao esclarecimento de alguns eventos, tanto para nós, espectadores, quanto para os personagens, no decorrer do filme. 

Assim como A VILA, de M. Night Shyamalan, REFÉM DE UMA VIDA pode ser visto como uma metáfora da relação entre os EUA e os países do Oriente Médio. O seqüestrador seria o terrorista talibã que, cansado de ser escravo do patrão rico e de um sistema que não lhe oferece uma vida digna, age de maneira desesperada, como se essa fosse sua única saída. 

Os três atores principais do elenco estão ótimos, mas destaco principalmente Willem Dafoe, que ultimamente andou pegando uns papéis ridículos de vilão, talvez por causa de seu sucesso como o bad guy de VIVER E MORRER EM LOS ANGELES (1985), mas só mesmo a necessidade de dinheiro para o leite das crianças para ele se submeter a papéis horrorosos como os de VELOCIDADE MÁXIMA 2 (1997) e HOMEM-ARANHA (2002). Seu personagem em REFÉM DE UMA VIDA é bem mais sutil. É mais alguém desesperado em busca de uma solução para os seus problemas do que uma pessoa essencialmente má. 

O holandês Pieter Jan Brugge, fez sua estréia na direção com esse filme. Antes ele havia produzido filmes como FOGO CONTRA FOGO (1995) e O INFORMANTE (1999), ambos de Michael Mann, e O DOSSIÊ PELICANO (1993), de Alan J. Pakula. Agora ele mostrou que também tem talento para a direção com esse belo filme. 

O próximo título a ser exibido no Cinema de Arte será NÃO SE MOVA, do italiano Sergio Castellitto, com Penélope Cruz e o próprio Castellitto no drama de um homem casado que tem um caso com uma camareira de hotel.

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