quinta-feira, janeiro 27, 2005

O CINEMA INDEPENDENTE AMERICANO EM TRÊS FILMES

 

E o número de filmes vistos e não resenhados só aumenta nessas férias. Atualmente são 13 na lista. O que me força a fazer esses resumos rasteiros de alguns filmes antes que eles sumam de minha memória. Mas falar sobre os filmes vistos - alguns há quase um mês - até que ajuda a trazê-los de volta à mente. Os três filmes foram vistos em DVD. 

FALANDO DE SEXO (Speaking of Sex) 

Talvez eu esteja forçando a barra em colocar FALANDO DE SEXO (2001), de John McNaughton junto desses outros dois que têm mais cara de cinema indie, mas como McNaughton é praticamente um marginal na indústria americana, e esse filme foi produzido em conjunto com o Canadá, então tá valendo. Achei que ia gostar mais desse filme. Vai ver não estava de bom humor para apreciar uma comédia screwball atualizada e mais apimentada. Falar da trama do filme ia levar muitas linhas, mas dá pra resumir um pouco dizendo que é a história de um casal que vai à procura de um terapeuta porque o marido não está conseguindo uma ereção com a mulher sem uso do Viagra. Nesse filme, os médicos (James Spader e Lara Flynn Boyle) são mais doidos que os pacientes (Melora Walters e Jay Mohr). Destaque para a participação de Bill Murray, já velho conhecido de McNaughton, fazendo o seu tipo habitual. A mim, o filme não disse muita coisa, mas reparei que ele esteve em algumas listas de melhores do ano de alguns blogueiros célebres. 

O SHOW DA VIDA (The Jimmy Show) 

Um dos filmes mais tristes dos últimos anos. Ontem eu estava conversando pelo MSN com o amigo Pablo e ele me perguntou qual seria um top 5 de canções de losers. Aí eu falei lá umas cinco e ele comentou sobre uma famosa canção do Joy Division, e eu falei que Joy Division vai além da tristeza. Nas canções dessa banda, não há mais angústia ou desespero. Só resta desesperança. É mais ou menos o que a gente sente ao ver esse filme, que nem mesmo faz a gente chorar. E o pior é que sabemos que existem milhões de pessoas nesse mundo que não encontram satisfação na vida. Até aquilo que eles mais amam fazer é ruim, ninguém gosta. O SHOW DA VIDA (2002), de Frank Whaley, é a história de um cara normal, que tem um emprego miserável que ele odeia, que tem que cuidar de sua avó inválida e sonha em se tornar um grande comediante. O problema é que ele não tem a menor graça. E quando ele achava que a vida não podia ficar pior, ela fica. Tristeza chega e fica com esse filme. Ethan Hawke tem uma participação pequena. 

ANTI-HERÓI AMERICANO (American Splendor) 

Engraçado que nesses tempos de adaptações de quadrinhos para as telas, uma das melhores não seja um filme de super-herói. Pelo contrário, é de um sujeito comum, meio loser até. A maior glória da vida de Harvey Pekar (interpretado por Paul Giamatti, ótimo) foi ter tido a idéia de escrever histórias em quadrinhos sobre a sua vida sem graça. Isso, muito antes de SEINFELD existir e trazer o conceito da série sobre "nada". Ajudado pelo amigo e já superstar das HQs Robert Crumb, ele cria a sua própria revista, a American Splendor, que vira um sucesso. Pekar até arranja uma esposa por causa de seus quadrinhos. Uma das coisas que eu mais gostei em ANTI-HERÓI AMERICANO (2003) foi uma certa semelhança com CARO DIÁRIO, de Nanni Moretti, especialmente na seqüência em que a mulher de Pekar resolve registrar, também em quadrinhos, a sua luta contra o câncer. Lembrei imediatamente da luta de Moretti contra uma coceira no citado filme. Mas o filme americano tem brilho próprio. E é bacana conhecer os verdadeiros Harvey Pekar, sua mulher e seu amigo nerd, que aparecem durante o filme. Um detalhe: quando eu achava que o ator estava exagerando ao interpretar caricaturalmente o nerd, qual é minha surpresa ao ver que ele estava sendo bastante fiel. ANTI-HERÓI AMERICANO já é o quarto filme dirigido pela dupla Robert Pulcini e Shari Springer Berman. Os outros três, acredito que sejam inéditos no Brasil.

Nenhum comentário: