domingo, março 28, 2004

PACTO DE JUSTIÇA (Open Range)



Sidney Lumet quando entrevistado por Peter Bogdanovich, no começo dos anos 60, falou da comparação entre ver RIO VERMELHO (1948), de Howard Hawks, no cinema e vê-lo na TV. Nas palavras do próprio:

“O que Hawks fez em termos da realidade de um deslocamento de gado está, para mim, no nível daquilo que Ford fez em “Stagecoach” (No Tempo das Diligências, 1939). É um filme definitivo. Mas quando se vê isso na televisão, são só tomadas de vacas que passam – é insensato, sem sentido, parece longo demais. A majestade com que Hawks fez aquilo se perde.”

O que Lumet falou a respeito de RIO VERMELHO pode ser aplicado também ao maravilhoso PACTO DE JUSTIÇA, de Kevin Costner. É um filme pra se ver no cinema. Na tv o filme vai ficar menor, ainda por cima se cortarem os lados. O som do filme é extraordinário. A seqüência do tiroteio final é de chorar de emoção - assim como a seqüência sentimental. O som dos tiros é impactante, parece o som de um canhão, ainda mais porque, durante a maior parte do filme, poucos tiros são ouvidos. O impacto físico e sonoro dos tiros encontra paralelo na violência dos filmes de Peckinpah, só que com menos sangue. Há também uma cena espetacular de uma tempestade. A fotografia em scope é estupenda, valorizando as paisagens do velho oeste e quando necessário centrando nos rostos dos protagonistas. Além de todo esse belíssimo trabalho técnico, há no filme uma valorização muito bonita da honra, da amizade, do companheirismo, da confiança, da beleza presente nas coisas simples.

A história do filme é narrada com uma precisão espantosa. A emoção é narrada num crescendo até chegar ao emocionante clímax final. Até parece um daqueles grandes faroestes dos anos 30-60. E, ao lembrar desses filmes, dá uma pena que esteja se fazendo poucos deles ultimamente. Ainda bem que Costner e Eastwood ainda estão vivos, já que a nova geração de cineastas parece estar bem pouco preocupada em manter a tradição dos bons westerns. Além do mais, o gênero não tem dado dinheiro - na sala em que eu assisti, havia poucas pessoas. Mas eu senti no ar que todas elas saíram do cinema satisfeitas, ficaram sentadas algum tempo enquanto os créditos subiam, em estado de graça.

Não vou nem falar do belo desempenho dos atores (Costner, Duvall, Annette Bening) porque esse é um filme que supera a performance do elenco. E eu quero ser o Kevin Costner quando crescer.

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