sexta-feira, maio 09, 2003

CINE CEARÁ - ENTRE O CALOR E A VERGONHA

Ontem fui para a segunda noite do Cine Ceará desse ano. Vou começar comentando o que mais me incomodou. O som estava uma merda - às vezes não se conseguia entender nada do que os atores estavam dizendo no filme. Um horror. Outro problema: o ar condicionado péssimo, que dizem que está funcionando, mas não o bastante pra tanta gente. Acho isso um desrespeito para com o público, os realizadores e os jornalistas e uma vergonha para nós. Vejam só o que Luiz Zanin Orochio, do Estado de São Paulo, escreveu hoje no jornal:

"FORTALEZA - Cine São Luiz com gente espirrando pelo ladrão, calor infernal lá dentro, muito povo do lado de fora, e alguns globais causando frisson, como Giovana Antonelli, Murilo Benício e Claudinha Abreu -- este o par principal de O Homem do Ano, de José Henrique Fonseca, filme escolhido para abrir na quarta-feira o 13.º Cine Ceará, hors-concours. "

e mais:

"A cerimônia foi rápida, sintética, de bom gosto. Nada de discursos inúteis e cansativos - que, aliás, cairiam mal sobre uma platéia já bastante incomodada pelo calor. Depois da apresentação de O Homem do Ano, por seu diretor, passou-se logo à projeção que era o que interessava. Projeção, aliás, prejudicada pela má qualidade de som do Cine São Luiz. Alguns diálogos ficaram inaudíveis. Outros se entendiam com dificuldade, o que, convenhamos, não é a melhor condição para se ver um filme."

Não é motivo de vergonha?? O que o Grupo Severiano Ribeiro está fazendo com o dinheiro dos altos preços dos ingressos e da pipoca que não conserta o som e o ar? Por que o Governo do Ceará, vendo o nome do Estado em um evento de projeção nacional, não mexe um dedo pra mudar isso? Por que os inúmeros patrocinadores, incluindo a Petrobrás, não fazem alguma diferença? Uma lástima.

Bom, passada a minha revolta, vamos aos eventos de ontem.

OS CURTAS

Cheguei atrasado para o curta em vídeo SILVA, de Beto Sporkens. Os outros curtas foram difíceis de curtir pelas razões que eu já mencionei.

O primeiro, GLAUCES, de Joel Pizzini, documentário de meia hora com edição de imagens de vários filmes com Glauce Rocha, é bem interessante e de montagem excelente, mas com uma duração dessas, ficou cansativo.

CEGO E AMIGO GEDEÃO À BEIRA DA ESTRADA traz Pedro Paulo Rangel como um ceguinho num filme que pretende ser engraçado, mas nem sempre consegue.

TERMINAL, filme em animação de blocos de preto e branco que até lembra "Sin City" de Frank Miller, é excelente técnicamente, mas não conseguiu atrair minha atenção para a narrativa. No fim, acabei não entendendo nada. Talvez porque estivese conversando com as meninas (Rejane e Valéria)

O último curta, CEGA SECA, de Sofia Federico, salvou a mostra. Mesmo com todo o problema de som e calor, o filme tem uma narrativa gostosa, que fez com que o público inteiro parasse pra prestar atenção. O filme traz uma história passada na caatinga nordestina com imagens bonitas e movimentação de cãmera ótima. No final, uma homenagem a O CÃO ANDALUZ, de Luis Buñuel. Sofia Federico tem potencial.

CAMA DE GATO

Finalmente, o longa-metragem da noite: CAMA DE GATO, do paulista Alexandre Stockler. (Caio Blat não veio com o diretor e o elenco jovem para o Cine São Luiz. ) Posso dizer que gostei da primeira meia hora. Depois o filme chega a ser cômico com tantas tragédias aparecendo na vida dos garotos. E se torna um pé no saco na cena final do lixão, excessivamente teatral.

Não vou contar aqui a história pra não estragar a surpresa de quem vai conferir o filme quando ele entrar em circuito comercial, mas adianto que ele contém cenas de sexo quase explícito, estupro, violência e opiniões polêmicas. É filme feito mesmo pra dar o que falar, nem que seja na base da apelação. Nada contra. As principais referências do trabalho de Stockler são mesmo o provocador Mikael Haneken (A PROFESSORA DE PIANO, CÓDIGO DESCONHECIDO, FUNNY GAMES) e os filmes do Dogma 95 (FESTA DE FAMÍLIA, OS IDIOTAS). Aliás, o próprio movimento criado por Stockler, o TRAUMA, é feito de maneira parecida com os filmes do Dogma: câmera digital de baixa qualidade de imagem na mão, muitos diálogos se aproximando do real, temas bombásticos. O que difere é que Stockler não abre mão de uma edição nervosa para dar mais agilidade à narrativa. Vale conferir.

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